...Que a maioria dos autores se preocupa em "vender sua história como BRASILEIRA ou QUADRINHOS, mas raramente como HISTÓRIAS.
Não me levem a mal, não sou nacionalista, nem um daqueles babacas que falam que "tudo que é brasileiro não presta ou vai dar errado" - outro dia discuto a imbecibilidade de falar pejorativamente "só no Brasil que acontece isso" - tenho até uma bandeira do Brasil no quarto, que não acho a "mais bonita do mundo" como alguns condicionados falam, mas gritar aos quatro ventos que um dos "méritos" da sua história é "ser brasileira" é MULETA, uma desculpa incompetente para justificar uma história de qualidade duvidosa. Eu, você, o público, o universo e tudo o mais já vimos um monte de coisas medonhas sendo empurradas com uma bandeirinha verde e amarela estampada.
Enfim, falar que tua HQ é linda e maravilhosa por ser "brasileira" não cola.
O que você faz para outras pessoas apreciarem (pagando por isso ou não) tem de ter mérito próprio, não se apoiar na solidariedade alheia.
A ênfase em "quadrinhos" como virtude de um trabalho é para mim outro errãozão. Alguns podem pensar que vou falar no argumento dos "mais antigos", de que quadrinhos (e animação) é tudo coisa de criança, tudo sub-arte - esse tipo de pensamento está visivelmente menor que há uns dez anos atrás, mas já deu merda no estado de São Paulo nos tempos recentes - mas acho que o problema é justamente o contrário: quadrinhos é uma arte e até que está bem reconhecido como tal (exceto pelas bestas do naipe citadas acima) e por causa disso, a ênfase em "Quadrinhos" acaba por elitizar seu trabalho e...
... bom, isso espanta a maioria do público.
Poucos vão à um cinema ver Cinema, mas para assistir "um filme", certo? Não se vende uma história como se fosse "ideal para festivais de cinema" tendo em mente um público mais "pipoca". Para mim, por "Quadrinhos" bem grandão na capa acaba por espantar o público mais normal e menos inteirado à arte.
Tá, há quem queira ter um público seleto, e tal, mas, puta que o pariu, não me venha depois chorando que no Brasil não tem a poha do mercado que te sustente, ok?
O que o público "normal", aquele publicão enorme aí fora que não está no gueto (e tem quadrinhistas cá de nossa terra - e tem escritores de fantasia/ficção também, diga-se de passagem - que parecem gostar é de ficar no gueto e nas panelas da vida chorando a incompreensão do mundo malvado lá fora) quer são HISTÓRIAS, histórias para se divertir, histórias para fugir, para aprender, para se identificar, não importando a forma de como é contada nem de onde ela venha.
É muito fácil colar adjetivos pomposos em um trabalho e depois posar de mártir injustiçado dos Quadrinhos Brasileiros, é fácil abandonar depois da primeira crítica ou fracasso, é fácil disputar espaço em um nicho já consolidado, mesmo que ele esteja encolhendo. Difícil é criar bons personagens e tramas que conquistem um público, difícil é ter persistência, visão e paciência, difícil é conseguir conquistar mais leitores, conquistar quem não lia quadrinhos anteriormente por causa dos seus vícios e guetos, aumentar a base de leitores existentes.
Enfim, quando os autores brasileiros decidirem fazer histórias para humanos e não para quadrinhófilos ou nacionalistas de butique, a gente vai pra frente. É o que eu acho.
* Apesar de ser tradicionalmente postado às segundas-feiras, o papo é de segunda pela qualidade do monologador :P