São Paulo, 1988. Sete horas e doze minutos de uma manhã de sol de um dia tão sem graça quanto qualquer outro que dia que contenha aulas, por isso Klara não estava particularmente sonolenta, desinteressada ou animada em ir à escola. Como todos os dias, saiu de casa pelo enorme portão, deu tchau à mãe que cuidava dos afazeres domésticos e como um robozinho social, avançava passo a passo em cima da calçada no ritmo impresso pela rotina para chegar na escola de sempre.
(ela teve um sonho esquisito, mas esqueceu de lembrar)
Ela estava na oitava série, gostava de música e escolhia os filmes para ver de acordo com o consenso de seus amigos e quais atores que estariam na tela grande. Comia no Mc mais de uma vez por semana, mas planejava dieta toda segunda-feira. Se achava gorda, embora estivesse na parte mais baixa da categoria "Peso Normal" no IMC (Índice de Massa Corporal), odiava seu cabelo (lisos e loiros) e faltando apenas três quarteirões para sua escola suas preocupações se reduziam a duas: a prova de matemática na primeira aula e como se vingar de Serginho e "daquela perua".
Enfim, tinha uma vida sem graça, era uma menina sem graça e se esforçava muito para isso. Nem em pensamento tinha se expressado assim, mas era da filosofia que o mundo era cruel com quem era diferente.
São Paulo, 1988. Sete horas e vinte e três minutos de uma manhã de sol de um dia tão sem graça quanto qualquer outro que dia que contenha aulas, o mundo prova para Klara que ele era também cruel com quem era igual a todo mundo, de forma simples e eficiente: uma janela de carro aberta, exibindo um revólver apontado para a menina. Ameaçadoramente, claro.
- Entra. De bico fechado.
Pronto, Klara não era mais uma pessoa normal, era uma sequestrada!
つづく