(essa série podia se chamar "mushi na perpendicular", não? XD)
Assim como ano passado, iniciei estudar a língua local, "preparação de viagem", mas no fim só gastei dinheiro em um livro básico que mal foi aberto :P
Mas ao contrário de 2011, fiquei quieto no blog e twitter sobre meus planos: eu queria mesmo fazer uma surpresa tipo "olha, agora to twittando no Japão \o/" no ano passado (sim, sou besta, mas qual a graça de se gastar em diversão e ser sério?), mas as circunstâncias (a.k.a. Preocupação e Indecisão) não deixaram.
Desta vez, só dei indicações aqui e ali de que ia viajar. Na véspera, aproveite o gancho de que "queriam me matar", disse no twitter que estava fugindo para a Bahia, programei twitts engraçadinhos e terminaria com uma foto de qualquer coisa escrita no aeroporto de Berlim com a mensagem "acho que não estou em Salvador".
Acabei não tirando a tal foto a tempo, ninguém ligou pras minhas besteiras sem graça no twitter e to adiantando a história. Rebobinando...
Enfim, chegou o dia: mala arrumada na última hora (com sobrinhos em torno), fichário novo (mal encapado, feito na última meia-hora), barba feita para não ser confundido com terrorista, twitts programados (mesmo não sabendo o que seria da minha viagem depois de Madri), peguei taxi na penúltima hora, mas mesmo com trânsito, cheguei bem a tempo de todas as burocracias e frufrus exigidos para se pegar um avião como manda o figurino.
Nem precisava de tanto, o vôo atrasou mais de uma hora para sair mesmo...
Para quem viajou de Britsh Airways, ir de Iberia é um downgrade: em cada trajeto da empresa britânica, haviam funcionários falando inglês e funcionários falando a língua local (São Paulo-Londres: português, Londres-Tóquio: japonês, etc), na Iberia era espanhol ou inglês, só. E senti falta da mordomia das televisões em todas as cadeiras em todos os vôos do ano anterior.
Enfim, paguei a passagem mais barata possível, com direito à altas emoções perto do fim, não tinha do que reclamar :P x)
(mas não vou negar, peguei um povo legal em torno, excursão de senhores e senhoras para Europa e Terra Santa, daqueles para puxar papo quando as luzes estavam acesas)
Dez horas depois, cheguei em Madri. O pouso não foi grandes coisas, mas o povo bateu palmas quando chegamos ao chão. Ou algo grave aconteceu e eu não estava sabendo, o que é bem provável.
(pra piorar, a Iberia tem o hábito de tocar musica clássica na hora dos pousos, uma iniciativa legal, mas podiam selecionar a trilha sonora, algumas das obras tocadas seriam colocadas fácil em cenas de "desastre imininente" em qualquer blockbuster cinematográfico)
O aeroporto de Barajas parece ser tão grande quanto Heathrow, com direito a trenzinho interno e tudo o mais. Mas eu estava tenso demais para curtir o local. Minto, eu estava mais tenso que o normal, mas menos do que muita gente que eu conheço estaria :P Já tinha me preparado psicologicamente para contar pros parentes, amigos e twitter a fantástica saga do meu retorno ao Brasil, expulso da Europa, a minha dramática passagem por um corredor polonês feito por soldados espanhóis, et caetera.
Pela primeira vez na vida, pisei na Eurásia Eurafrásia(Inglaterra e Japão estão ilhas, lembram? Quase parei na Coréia do Sul da outra vez, aí eu teria pisado na maior massa de terra da... Terra) e corria o risco de logo estar fora dali: depois de alguns corredores, encontrei a imigração. Sem soldados (ainda XD ...?), apenas um funcionário fazendo seu serviço, novo, meio incisivo, questionava se eu sabia dos documentos necessários para poder entrar na União Européia (ele disse praticamente isso). Falei que estava com tudo, menos a carta convite da minha amiga (até hoje espero ela na caixa de correio...), mostrei a versão impressa do scan, mas ele queria a carta O•FI•CI•AL (capslock na voz dele), ele reperguntou que documentos eu tinha, quanto dinheiro eu levava, insistia na carta, sempre em tom incisivo. Por fim, carimbou o passaporte e me liberou:
- Da proxima vez, non passa!
twittei essa imagem dias depois, mas escrevi a fala errado :P
Alívio e indignação. "Da próxima vez", é? ¬¬ Não engoli essa. Ainda.
Até agora não me decidi se eu fui liberado por que ele foi gente boa comigo ou se ele estava bravo por não querer me liberar mas as regras ou alguma instrução estava a meu favor :P Burro seria se eu puxasse assunto ali, fui embora antes que mudassem de idéia.
a tradicional foto de comida no primeiro aeroporto
E tive de esperar cinco horas até a saída do vôo para Berlim... nesse meio tempo fiquei caçando tomadas para recarregar o kindle (meu contato com o mundo), comi, dei uma volta no aeroporto... e Heathrow era melhor: concentrava o povo num canto, em torno tinha praticamente um shopping center XD Práticíssimo para matar o tempo e o salário. Barajas fez isso errado: é um enorme corredor onde ficam as cadeiras/embarques de um lado, lojas do outro. Não anima visitar as lojas desse jeito.
Barajas: se alguém faz a Espanha ser menos animada que a Inglaterra, alguém fez algo terrivelmente errado por ali
(Também achei um hondurenho morrendo de fome querendo trocar dolares por euros para comer, mas não havia casa de câmbio aberta por lá :|)
Quase 1900km, mais ou menos a distancia entre São Paulo e Maceió
O vôo para Berlin foi num avião bem menor, com novo atraso, sem refeição, sem cadeiras reclináveis e sem funcionários falando alemão - só espanhol e inglês - apesar de boa parte dos passageiros serem alemães. Lembrei que prometi para mim mesmo evitar piadas sobre nazistas até sair da Europa, mesmo no twitter. Vai que me deportassem :Þ
Alpes!
Chão!!
Um cochilo e chegamos no aeroporto de Tegel e... o compartimento de bagagens não quer abrir :P Provavelmente os funcionários da imigração espanhola deveriam estar lá dentro do container gritando "daqui non passa!!" para alguma bagagem brasileira desafortunada =P
Mais espera até as duas malas do mala aqui aparecerem na esteira, as pego ("eram elas mesmo? nunca tenho certeza..." <- e olha que elas tem enfeites para se destacarem na multidão) e na saída, dois guardas me param. Não lembro se me perguntaram algo, mas olham o passaporte, pegam lupa, reolham, olham pra minha cara... tô liberado. #ufa
(imaginem se eu tivesse levado meu chaveiro :P)
"Acho que não estou em Salvador..."
Antes de sair, tem mais funcionário perto da porta. Faço sinal se preciso passar por ele também? Num inglês com forte sotaque de padre de piada (e fácil o suficiente pro meu conhecimento rudimentar da língua entender) ele me pergunta "você trouxe cigarros?" Não. "bebidas?". Não. "CACHAÇA?!?". Não XD. "Pode passar! :)"
E passei, era começo da noite, encontrei meus amigos e estava eu em uma cidade que não conhecia ainda^^
(e nem fiquei olhando no Google Maps para ver como era por que é spoiler)