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blog:pais_apostolicos

Pais Apostólicos


(por um monte de gente)

Não é segredo que gosto dos textos bíblicos - tenho alguns artigos aqui no blog e até um projeto maiorzinho no catarse! - e esse livro entrou na minha mira assim que soube da existência dele: a primeira geração de cristãos escreveu os evangelhos e as cartas dos apóstolos (ah, e o apocalipse), mas a produção de textos da comunidade não parou nela: dá para dizer que a seleção de escritos deste livro é da segunda seleção, e alguns deles até foram cotados parar entrar no cânone do Novo Testamento!
primeira e segunda cartas de Clemente: a primeira carta foi escrita para os coríntios por volta de 96, que se rebelaram e ele manda um textão cheio de exemplos do Antigo Testamento, dá uma indiretona nível “obedeçam à Igreja, estamos sempre certos, senão vocês vão pro inferno” e chega a citar o mito da fênix como animal real e símbolo da ressurreição dos fieis =p A segunda provavelmente é bem mais tardia e foi erroneamente atribuída àquele bispo de Roma. É um sermãozinho sobre boas obras e castidade, também cheia de citações da Bíblia e até de um evangelho apócrifo, o de Tomé, que dizem pender pro gnosticismo.
• as cartas de Inácio, começo do século II, são para diversas comunidades: efésios, magnésios, tralianos, romanos, filadélfios, esmirniotas e uma para Policarpo. Enquanto o bispo é sendo escoltado de Antioquia até Roma para ser executado. Apesar disso, o autor consegue passar sua mensagem de fé e dar algumas broncas às comunidades, nas entrelinhas. Chega até a ser engraçado, volta e meia ele critica e avisa um monte de coisas, com certeza dando uma direta pra algum grupo de fiéis e, de repente, diz algo assim “não é por ter ouvido alguma coisa desse tipo de vocês que estou escrevendo isso. Não, estou avisando vocês, só”. Seeeei... A grande exceção é a carta pros romanos, que é basicamente assim “povo de Roma, to chegando, não intercedam por mim, quero ser martirizado. Se necessário, vou chutar a bunda do leão pra ele ficar bravo e acabar comigo de vez. Repito: esse martírio é meu e não o tirem de mim!! ò_ó”.
To meio WTF com esse texto até agora.

(e confesso que comecei a leitura das cartas com birra dele porque pede pra obedecer bispo ali, diácono lá.... mas depois percebi que na época eram cargos de um cenário e uma estrutura bem diferente das igrejas atuais)

Policarpo de Esmirna, aqui, tem uma carta aos filipenses e uma narrativa do seu martírio, com direito a discussão com autoridades romanas em defesa da sua fé e uma fogueira que não o queima. Também tem a curiosidade que os cristãos eram acusados de ateísmo (afinal, não acreditavam nos deuses deles) e o procônsul manda ele gritar “fora com os ateus” e o bispo, claro, repete sem problema algum :P
• a Didaquê é meio que um rápido manual da igreja primitiva.
• e metade do livro é o Pastor de Hermas, pelo jeito foi escrito em latim no século II também. É um livro cheio de linguagem simbólica, mas sem o impacto da obra de João de Patmos. O narrador tem uma série de cinco Visões, doze Mandamentos e dez Comparações. Como os outros documentos, é bem carregado da doutrina do período, e também é repetitivo e cansativo às vezes, mas apesar de tudo, acho legal a estrutura e o uso de elementos fantásticos (não muito criativos, mas tão lá) como metáforas da mensagem que o autor quer passar.

Ah, três coisas: li este livro em 2019, então estou ~resenhando~ em cima da minha memória, das anotações que fiz na época e da introdução do livro :P A outra coisa é que é muito sensível a tentativa de se manter a hierarquia da Igreja, já nas primeiras décadas de Cristianismo.
Por último, parece que algumas cartas paulinas tem sua autenticidade posta em cheque inclusive por aludirem a um cenário mais parecido com o que se vislumbra nestes textos que ao que se entrevê nas outras epístolas.

# Veredicto: é o tipo de livro que amplia muito a compreensão do contexto que resultou na formação do que chamamos de Novo Testamento, além, de claro, nos dar uma janela para o que os primeiros cirstãos acreditavam e faziam.
# Bom: como documento histórico, e talvez para compreensão de alguns aspectos da própria fé, é valiosíssimo. E o Pastor de Hermas tem algumas idéias legais, narrativamente falando.
# Mau: às vezes é cansativo, às vezes é hierárquico demais, e às vezes dá vontade de dizer "ah, tá" pros autores :P
272 páginas por edição • 2017 • veja no site da editora

Índice de resenhas e movimentações da minha estante:

...e estou vendendo parte da minha coleção, veja a lista aqui

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blog/pais_apostolicos.txt · Última modificação: 2021/04/27 07:50 por mushisama