Fullmetal Alchemist


(por Hirumu Arakawa)

Começo do ano passado retrasado tive uma das melhores levas de leitura da vida, tanto em quantidade quanto em velocidade - eu tava inspirada e com dedo bom para escolher obras - , a ponto de ter separado muita coisa na época para “resenhar direito depois” e que agora está agora acumulando poeira na estante =_=
FMA foi uma das estrelas dessa leva: li os 27 mangás numa tacada só, alguns capítulos por noite, e em seguida engatei a leitura dos três guias da série, tudo publicado da JBC. Nunca vi o anime (ou os animes, o mangá foi adaptado duas vezes, “Fullmetal Alchemist” e “Fullmetal Alchemist: Brotherhood”, que dizem ser mais fiel aos quadrinhos), mas os elogios precediam bem o gibi e, sim, eles estavam certos :)

(tenham em mente que esta é uma resenha bem tardia, cerca de dois anos depois, então muita coisa já esqueci, exceto que foi uma excelente viagem)

Em um país num mundo com magia e tal, vamos seguir os passos de Edward e Alphonse, irmãos e os mais jovens alquimistas do exército de Amestris, um país nitidamente militarista, com claras (e, para mim, incômodas) inspirações germânicas. Num evento do passado que é revelado aos poucos, Ed perdeu o braço e a perna, enquanto Alphonse teve a alma transplantada para uma armadura metálica. A partir daí, vamos conhecendo aos poucos os personagens, seu passado, outras pessoas, o país, sua história, outras nações e a verdadeira natureza da magia que os personagens usam* - e o grande vilão por trás de tudo - , num crescendo bem construído.
Não é a toa que a autora, Hiromu Arakawa, entrou numa lista de 50 ficções-científicas escritas por mulheres, ao lado de gente fodona como Ursula Le Guin e Mary Shelley (e mais espantoso ainda foi descobrir que Frankenstein NÃO foi a primeira FC, mas que a primeira obra do gênero também foi escrita por uma mulher :P). Inclusive, gosto das rápidas conversas que ela faz com os leitores no fim de cada volume do mangá. Em um deles, ela dá a entender que entrevistou veteranos de guerra para compor um conflito no passado que é importante pra narrativa.

# Veredicto: FMA para mim é obrigatório, uma série pra morar no acervo. Inclusive aqui você vê o que é líder militar golpista de verdade, talkei?
# Bom: arte, personagens (especialmente os secundários, alguns chegam a ser mais desenvolvidos que os protagonistas :P) (convenhamos, personagens principais geralmente tem enredos nitidamente traçados para quem tem alguma quilometragem em leitura, os secundários/terciários geralmente tem mais liberdade, correm mais riscos e muitas vezes tem mais humanidade e/ou carisma) e uma vítima em potencial é um dos piores vilões. O worldbuilding também é na medida, não é desnecessariamente detalhado, é vago às vezes, mas se percebe que tem uma construçãozinha. A verdadeira natureza da magia daquela nação me deixou de queixo no chão. O enredo como um todo é bom, bem redondinho e ainda trata de temas como guerra, ódio** e discriminação com outros povos. E, ah, FMA tem uma das histórias curtas mais incômodas que já li, com um dos pais mais fdp ever.
# Mau: há algumas pontas soltas, fillers (poucos) e personagens desperdiçados aqui e ali (uma morte de vilão foi injusta... a forma como foi feita, não a morte em si), mas é difícil disso não acontecer numa obra tão grande. O final é correto, mas tem muita batalha e pouco diálogo, quando vi tava no fim.
cerca de 190 páginas por edição (27 volumes) • R$ 16,90 a R$ 19,50 • 2016-18 • veja no site da editora
(A edição que eu tenho é a reedição, FMA foi publicado originalmente por aqui em 54 volumes de 2007 a 2011)

* Quando você acha que o Brasil que é um país assentado em cima de sangue inocente... a autora decide ser mais megalomaniaca que a realidade e faz o pais ficcional dela ser bem píor. Por enquanto.
** Talvez seja spoiler: em FMA #18 acontece uma das melhores cenas/mensagens que li em muito tempo, quando Winry conversa com Scar. A conversa sobre quebrar a corrente do ódio, tentar fazer o mundo seguir um ciclo positivo. É tão raro ver esse discurso em histórias, geralmente é vingança justificando vingança justificando.... que supostamente resolve a vida interna do personagem. Só que, na vida real, só dá em merda.

Fullmetal Alchemist: Guia Completo

São três “mangazinhos” com material extra e de referencia da autora. Admito que li diagonalmente, pulando páginas e assim mesmo foi uma leitura lenta para mim: boa parte é descrição de personagem, parte da informação era auto-evidente pra quem leu os mangás. Por outro lado, tem coisas interessantes, vários esquemas explicando cronologias do mundo e dos personagens, especialmente no arco final, algumas informações inéditas escondidas em perguntas e respostas com os personagens, entrevistas com a autora, pitada de bastidores etc.
Todos os 3 volumes tem uma HQ inédita no fim. No primeiro tem O Alquimista Cego - é incômodo no estilo da quimera que fala (mas menos, pq são menos páginas), o segundo tem uma história com a mestra dos personagens quando era nova (e aterrorizou certo forte no norte do país) e o terceiro uma das primeiras noites que Al passou sozinho.

# Veredicto: vale se você quer saber mais sobre os bastidores, ou matar bem levemente as saudades dos personagens com as historinhas apresentadas ^^
# Bom: muita informação e, claro, as três HQs extra
# Mau: obviamente tem alguma encheção de linguiça e, claro, é um material mais para quem amou o mangá de FMA, tipo eu.
cerca de 180 páginas por edição • R$ 21,90 cada • 2017-18 • veja no site da editora

Índice de resenhas e movimentações da minha estante:

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