...foi no Monte das Oliveiras e não acabou bem.
Nas vésperas de uma páscoa, Jesus e seus discípulos (que era mais gente além dos doze apóstolos) chegaram em Jerusalém, uma cidade com cerca de 80 mil habitantes. Ele foi muitíssimo bem recebido pela população, deu várias palestras sobre religião - onde respondeu questões dos universitários -, teve um caloroso encontro com os empreendedores locais
em que expôs com sinceridade como deveriam tratar gente que vive às custa da fé alheia.
Uma nota aqui: a cena de Jesus entrando no templo de Jerusalém nos evangelhos sinópticos acontecem perto do quarto final do texto (Marcos 11, Mateus 21, Lucas 19), mas em João acontece já no capítulo 2, e é nessa narrativa que Jesus faz um chicote e expulsa os vendilhões. Uma interpretação é que Jesus fez esse barraco duas vezes na sua carreira, outra é que João mudou a ordem dos fatos para fins didáticos. Não que os quatro evangelistas sejam lá bons exemplos de rigidez cronológica ou exatidão geográfica...^^'
Enfim, pormenores à parte, o recado é claro: “A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões”, “não façais da casa de meu Pai casa de venda.”
Já li interpretações que, sendo Jerusalém uma cidade sob jugo romano, pegou muito mal a bagunça no templo para as autoridades judaicas (ao que me lembre, não está explícito nos quatro evangelhos mas, para mim, cabe) e isso foi um dos motivos/desculpas para o que veio nem uma semana depois: “uma grande multidão, com espadas e bastões, da parte dos chefes dos sacerdotes, dos escribas, dos anciãos” marchou até Monte das Oliveiras - Marcos 14, Mateus 26, Lucas 22, João 18 -, guiados por Judas (o Iscariotes, não o Tadeu), que deu um beijinho no rosto de seu Mestre e O entregou para a sequência mais tensa dos evangelhos: julgamento forjado, tortura institucional e execução da pena de morte.
Isso tudo em nome da ordem e do bem coletivo, com o apoio, aplausos e choro da mesma população que O recebeu com ramos poucos dias antes.
Ah, sim, em várias passagens dos evangelhos multidões iam para Jesus, mas era um movimento espontâneo, contínuo, sem organização. Essa marcha tétrica foi a primeira organizada e com fins claramente políticos, iniciada por gente poderosa tentando manter seu poderzinho, e quiçá acumular mais.
E, infelizmente, esse espírito move multidões até hoje em dia.