Antes de começar, lista de resenhas anteriores de Astro City:
• Vida na Cidade Grande
• Confissão
• Álbum de Família
• O Anjo Maculado
• Heróis Locais
• A Era das Trevas 1 - Irmãos & Outros Estranhos
• A Era das Trevas 2 - Irmãos em Armas
• Astro City: Estrelas Brilhantes (de Kurt Busiek e Brent Anderson): mais um volume com várias histórias fechadas, em vez de uma grande "saga". O diferencial aqui é que os contos são maiores que o usual, em torno do dobro de páginas, tanto que aqui temos apenas quatro histórias, cada uma focando um personagem:
• Em A Águia e a Montanha reencontramos o Samaritano e somos apresentados a um de seus vilões, o Infiel. Já aviso que é uma das melhores histórias que li da série (reli, por sinal: essa saiu num encadernado da Pixel que misturava histórias aleatórias de Astro City). O Infiel deve ser um dos vilões com backgrounds mais... preciosos que já li: nascido onde é hoje o Quênia, sempre curioso e inteligente, foi escravizado nas suas buscas por conhecimento e aprendeu alquimia na Pérsia (minha memória pode estar me enganando), no auge do Islã. Achei foda por causa da escolha rara de etnia, de período histórico, de quase zero contato com o Ocidente (tirando um cruzado ou outro) por séculos: o autor o montou para ser o oposto em origens ao heróis, e poderia facilmente ser alguém de origem arturiana, ou nazi, ou romana, por exemplo. Seria mais um numa multidão de outros personagens com essa origem, e ainda assim teria todos os itens necessários a ser um anti-Samaritano. De qualquer forma, Kurt Busiek pegou uma trilha mais legal e criou um confronto de vontades que demorará eras pra se resolver.
• A história seguinte é de Beautie, uma personagem esquisita que apareceu aqui e ali nas histórias anteriores e que em Raízes Escuras e Plásticas descobrimos que uma robô em forma de uma boneca (tipo uma Barbie naquele mundo), em tamanho natural.
Além de por toda a biografia dela, a HQ mostra a busca por quem a criou, que ela não se lembra em detalhes. É uma personagem deslocada, que chega a ser grosseira às vezes, mesmo sendo dede boa índole. A cena em que ela descobre uma pista e esquece em seguida, dias depois reencontra a pista, esquece outra vez, etc... mas sempre deixando (não-intencionalmente) mais elementos para ela retomar o fio da meada é muito bem feita e quase que angustiante. No fim, a história deixa uma questão para a pessoa que criou a Beautie resolver, não sua criatura. Outra boa história, com direito a uma pessoa morta por machismo burro :P
• Astra, que já teve uma história de infância contada (uma HQ de 1996), agora (a história é de 2009 e os personagens envelhecem em tempo real^^) é uma recém-formada da faculdade no par de histórias Dia de Formatura e Nó Górdio. Aqui ela mostra ao namorado (um humano normal) parte dos lugares e pessoas exóticas que ela tem acesso como super-heroína. É o tipo de história que revela o caráter dos personagens envolvidos, mas é só legalzinha, sustentada mais pela curiosidade do que vem a seguir na página seguinte (um recurso poderoso, já teve livro RUIM que não pude parar por causa disso)
(Divagação nerd: A Primeira Família, se fosse real, deveria sentir uma pressão (geo)política enorme. Eles fizeram um furo na represa entre nós e o resto do multiverso, pra usufruto próprio :P)
• Para Servir e Proteger e Lar na Montanha fecham o volume, estrelando o Agente de Prata, personagem que foi um dos eixos condutores do clima de A Era das Trevas, tanto nas partes mais legais do primeiro volume quanto das mais páia do segundo. Aqui temos uma biografia do personagens e detalhes que faltavam da última aventura dele.... e é uma historinha desnecessária, que não ofende, mas tanto o personagem quanto a série como um todo seguiriam muito bem obrigado sem ela.
# Veredicto: duas histórias acima da média, duas abaixo mas que não são ruins. O aproveitamento ainda é alto :P
# Bom: já rasguei elogios pro infiel e pra uma das cenas da Beautie, e mesmo a história da Astra tem um elenco de coadjuvantes quase que arquétipos bem legais, mas...
# Mau: ...temos a história do Agente de Prata e sua construção. Acho que me importo mais com o Infiel, que só teve uma história, ou com a Beautie, que era uma versão esquisita do Visão até então, que com ele e todo o suposto peso inspiracional que ele supostamente tem naquele universo.
212 páginas • R$30,90 • 2018 • veja no site da editora
• Pluto (de Naoki Urasawa): Pluto: mais uma resenha atrasada™, até porque dá uma preguicinha de resenhar de uma vez só uma série inteira de mangá. O autor fez o famoso mangá 20th Century Boys (que também "tenho e não li ainda"™) e aqui ele recria uma história clássica do Astro Boy (não confundir com o Menino Biônico :P), do Osamu Tezuka.
Basicamente é um futuro e nele os mais fortes robôs do mundo estão sendo destruídos um a um. Um investigador é escalado para isso... e a história já logo no começo tem vários desdobramentos e mais mortes de robôs. Como é um remake de um mangá dos anos 60, o futuro da história é quase utópico pros padrões atuais, naquele estilão em que os Jetsons se enquadra (mas não é bem isso) e que muitos dos robôs são quase humanos, a diferença entre alguns deles e nós é praticamente subjetiva. O tema do preconceito é colocado em pauta várias vezes, além da guerra, da memória (robôs se lembram de TUDO), do que é ser humano.
Apesar do começo magistral, a série perde gás do meio pro fim, encaixando as peças pros arcos finais e, em parte, entregando a narrativa pro protagonista original
# Veredicto: Apesar da finalização ficar devendo (algumas soluções são nhé), o saldo de Pluto continua altamente positivo e continuo recomendando a leitura :P
# Bom: Além da arte excelente, só o primeiro capítulo, contando o início da investigação disse e fez mais sobre robôs que que os doze volumes de Visão =P E faz falta ler algo que se passa num cenário otimista, mesmo tendo suas várias pequenas mentiras
# Mau: o vilão é um clichezinho que lá podia ser melhor trabalhado e, como disse, o conjunto vai perdendo a força nos arcos finais, mas aí já era tarde pra querer escapar da história.
• resenha melhor que a minha: Pluto, o Astro Boy de Naoki Urasawa (e que me fez comprar o gibi quando saiu nas bancas)
8 edições • 200-256 páginas • R$18,90 cada • 2017-2019 • veja no site da editora
• Assim se formou a Bíblia (de Diego Arenhoevel): assim, fim do século passado: eu fazia Letras na USP (língua japonesa, abandonei) e gostava de fuçar a biblioteca da faculdade - um dos subprodutos desse passeio foi o texto do Inferno. Alí achei esse livrinho (e outro que pretendo resenhar na próxima leva) e ele explodiu minha cabeça: pra quem acreditava que o texto bíblico foi escrito linearmente, livro a livro, essa ideia foi implodida de forma irrecuperável aqui: ele mostra, de forma bem didática (até demais, tem exercícios) uma das teorias da formação dessas histórias, com vários exemplos.
# Veredicto: a Hipótese Documental, apresentada aqui, parece estar superada (por algo mais fragmentário ainda, se entendi direito), mas ainda é importante e é bem apresentada.
# Bom: didatismo, humor, vários exemplos (tipo comparar um dos salmos com canto egípcio de época anterior que pode ter sido inspiração)
# Mau: não é exatamente o tema que interessa a qualquer pessoa, né? E, óbvio, não deve ser o texto mais técnico e profundo nesse tema.
170 páginas • So wurde Bibel: Ein Sachbuch zum Alten Testament • edição de 1978 (livro de 1974)
Índice de resenhas e movimentações da minha estante:
...e estou vendendo parte da minha coleção, veja a lista aqui
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