• Príncipe Valente - 1938 e 1939 (de Hal Foster) - bom, o segundo volume da série veio encartado junto do primeiro e comprei o seguinte, com a idéia de que se gostasse, pegava os seguintes. E já que tinha comprado, deixei pra ler depois, eventualmente li e... ao contrário do primeiro volume, aqui a narrativa me pegou: o personagem, os personagens secundários e tramas evoluem. Por exemplo, um triângulo amoroso que tinha tudo pra ser mais do mesmo sai da caixinha e se torna algo diferente, com companheirismo e tragédia. Além de tragédia, também há humor e epicidade (Andelkrag!), tudo no traço foda de Foster.
# Veredicto: bobeei e deixei passar várias edições, como conseguir as atrasadas???
# Bom: roteiro simples e eficiente, a narrativa vai te pegando a cada página, com curiosidade do que acontece na seguinte. E Hal Foster é um artista de um realismo de te fazer buscar o queixo no chão.
# Mau: o gibi é caro e se você preza por historicidade dos fatos, vai se ofender: o autor não tem dó de misturar períodos históricos díspares na sua cronologia.
76 páginas • R$ 44,99 • 2019 • veja no site da editora
• Senhor Milagre - 1 e 2 (minissérie em duas edições; de Tom King e Mitch Gerads) - mesmo depois da decepção que Visão foi pra mim, eu ainda tinha vontade de arriscar mais uma do Tom King e dessa vez não me arrependi. Óbvio que comecei a leitura com má vontade adquirida, com medo que mais uma vez um autor famosão estragasse os personagens do Quarto Mundo do Kirby - que não tenho muito apego, mas dá dó de ler as cacas que fazem com eles, tipo em Sete Soldados da Vitória e Crise Final, do Grant Morrison - mas nesse caso revelou-se um gibi bem construído, interessante de ler e que interfere nos personagens "reais" se você quiser ou não, depende da sua interpretação dos fatos da história :P
Uma pausa explicativa simplificada, baseada no que sei por alto lendo outros gibis e textos por aí: "Quarto Mundo" é como são chamados o conjunto de personagens e histórias que o desenhista Jack Kirby criou em meados dos anos 70, em que há um mundo bom, Nova Gênese, e outro mal, Apokolips. O primeiro é regido pelo Pai Celestial e o outro pelo famosão Darkseid (esse surgiu bem antes de Guerra nas Estrelas, ok? :P) e em algum momento eles fizeram um acordo, em que um criaria um filho do outro, ainda crianças. O filho de Darkseid, Órion teve vida boa em Nova Gênese, com direito a profecia de que um dia matará o seu pai biológico e o pequeno Scott Free, o Senhor Milagre, se fudeu de verde, amarelo (e vermelho) sendo educado em Apokolips pela Vovó Bondade, no inferno que deve ser viver num mundo com nome remete ao fim do mundo. Assim mesmo, lá ele se tornou mestre do escapismo (de fugir de lugares, não de ficar lendo ficção barata tipo gibi se super-herói) e encontrou o amor da sua vida, Grande Barda, que era parte de alguma tropa feminina chamada Fúrias Femininas. Como falei, não li estes gibis ainda^^
Saber disso acima não é spoiler, é história antiga dos personagens que inclusive é citada aqui e ali nessa história e em boa parte de outras histórias que estes dois (e os outros) aparecem.
Voltando: eventualmente o casal foge pra Terra, tem interações com outros personagens do universo da DC etc. E o gibi mostra uma fase da vida dos dois, já estabelecidos como casal, depois de Scott tentar fazer a maior das fugas possíveis =/
O ritmo da série é estranho, meio doentio e parte da HQ passamos na Terra, junto dos problemas e esperanças comuns à qualquer jovem casal normal e parte nos mundos de origem deles, com sua guerra eterna, com mortes, ascensões de hierarquia e diplomacia, tudo com um forte clima burocrático, claustrofóbico, doentio. Barda e Scott transitam de um cenário para o outro como alternamos da vida em nossos empregos pra rotina doméstica. E em ambos os ambientes a história vai avançando, os fatos e surpresas se sucedem e o autor vai usando inteligentemente a mitologia criada quarenta anos atrás, mais algumas armas de Chekov bem plantadas :)
Mas, como falei, o índice de "esquisitice" na história é acima da média, e a resenha não aborda interferências na arte que não tenho certeza se tem algum significado mais profundo ou se era só frescura do desenhista :P
Uma última consideração: o personagem Funky Flashman foi criado por Jack Kirby para ironizar e criticar o ex-colega da Marvel, Stan Lee, cujo bordão em vários dos textos era "Excelsior!" e que o personagem repete ocasionalmente em Senhor Milagre, enfatizando a ligação entre Lee e Funky. E, curiosamente, aqui temos uma espécie de redenção do personagem.
# Veredicto: vale a leitura =) Mas espero que o tal King escreva coisas diferentes de "fases da vida do nerd usando super-heróis como metáfora": se Senhor Milagre é a história do jovem casal construindo família, Visão é a crise dos sei lá quantos anos, com família crescida e fingindo ser exemplar pros vizinhos, com carreira estagnada em algum departamento da vida etc etc.
# Bom: a arte enjaulada num grid 3x3 quadros funciona, o roteiro tá bem construído. A cena do xixi é excelente, assim como Senhor Milagre tem um dos melhores anúncios de que vem mais uma pessoa para viver com o casal :)
# Mal: Alguns frufrus nas mensagens que se forem algo além de "construtores de clima" fracassaram lindamente pra ingnorante aqui, tipo os diversos "Darkeseid é". E aparentemente tem uma ligação "enigmática" com a situação atual dos gibis da DC que é bem desnecessaura. E não posso deixar de citar a frescura que foi a distribuição destas duas edições pela Panini, quem viveu, lembra.
156 páginas • R$ 23,90 e R$ 24,90 • 2018 e 2019 • veja no site da editora: 1 e 2
Índice de resenhas e movimentações da minha estante:
...e estou vendendo parte da minha coleção, veja a lista aqui