• À Deriva (de Bryann Lee O'Malley): É um dos trabalhos iniciais do autor. E como gostei de Scott Pilgrim, gostei de Repeteco... eu tinha de pegar esse gibi na primeira promoção que aparecesse :P A história começa dentro de uma viagem de carro com adolescentes e vamos acompanhando os pensamentos de Raleigh, uma adolescente de 18 anos que entrou na viagem meio sem querer com semi-desconhecidos da escola. O título faz bem ao climão da alma da personagem (apesar dela enfatizar que não tem alma mais) e aos poucos vamos conhecendo vai montando o contexto da viagem, da vida dela, solta trocentas perguntas, insinuações e algumas respostas do que aconteceu. Não é trágico, é até leve, com algumas esquisitices do autor e questões da faixa etária dos personagens, todos com vinte ou menos. É o tipo de HQ com altas doses de introspectividade, de problemas e dúvidas dessa faixa etária e que o passeio vale mais que a chegada até porque, assim como o leitor embarcou no meio da viagem, você os deixa sem chegar ao final, sem saber de tudo.
E quase esqueci: o gibi vem com algumas histórias curtas no fim com os personagens =)
# Veredicto: minha resenha tá rasa, mas o gibi vale sim ;P
# Bom: a busca pela alma da Raleigh :P Invejei a maluquice do autor e dos personagens toparem isso. Todo o formato da história de não mostrar tudo, mas só uma parte, é muito bom.
# Mau: a paleta meio que um rosa morto com preto azulado :P E provavelmente vai desagradar quem procura histórias mais agitadas ou fechadas.
# Uma resenha de verdade pro gibi: https://www.proibidoler.com/quadrinhos/resenha-a-deriva-geektopia/
192 páginas • R$ 49,90 • 2018 • veja no site da editora
• O Legado de Júpiter (livros 1 e 2) (de Mark Millar e Frank Quitelly): Existem super-heróis na Terra desde os anos 30, mas eles pouco interferem na política por orientação de Utópico, o líder deles. Só que, nos tempos atuais, com economia indo pro saco, alguns heróis acham que é hora de interferir, mesmo que indo contra seu líder.
Sinceramente, a história tem ritmo bom, me empolgou e li os dois volumes numa sentada só. Geralmente odeio a arte do Quitelly, mas aqui ela tá aceitável até =P Mas, dando três passos pra trás após a leitura do primeiro volume, deu pra se ver que o roteirista (autor dos excelentes Os Supremos e Superman: Entre a Foice e o Martelo) aqui é mestre em usar recursos de roteiro já bem estabelecidos (não é a toa que vai virar série da Netflix :P), não tem nada de novo ali ou com mérito próprio e a leitura do segundo gibi só foi pra confirmar essa impressão, fechando com mensagem final boba, meio que devolvendo tudo ao status quo anterior.
# Veredicto: por que isso foi publicado com capa dura mesmo?
# Bom: é excelente distração bem construída.
# Mau: Em primeiro lugar a arte do Quitelly. Em segundo, o Aécio. Praticamente nenhum personagem é desenvolvido, todos são bem razinhos, inclusive o mundo. Todos eles tem potencial, mas é tudo bem pá-pum, eles raramente vão muito além dos arquetipos. Uma coisa menor que me incomodou foi o clichê da adolescente rebelde - do tipo que quase morre de overdose - que vira uma adulta responsavel depois da maternidade. Aham, claro. Inclusive ela tem o dom de perder o fio condutor da história pro namorado, pro filho e até pro sogro que ela nem sabia que existia - e olha que ela é uma personagem com pedigree no enredo.
140 e 136 páginas • R$ 45,00 e R$ 41,00 • 2016 e 2018 • veja no site da editora: livro 1, livro 2
• Ayako (de Osamu Tezuka): cara, eu tenho poucos gibis no acervo que chamaria de tijolo. E esse é um deles, começando pelo formato físico em papel pólen, o preço, e, em alguns momentos, o roteiro. Como são mais de 700 páginas, decidi fazer a leitura devagar, na base de um capítulo por dia (quando dava), mesmo com a narrativa visual ágil do deus do mangá e gastei quase dois meses na brincadeira.
Resumo: o mangá conta a história dos Tenge, uma família importante em uma área rural do Japão, mas em plena decadência, econômica e moral, no anos 40, logo após a derrota do Japão na Segunda Guerra e segue até Tóquio do começo dos anos 70.
A história começa com o retorno de Jiro Tenge, um dos filhos do patriarca da família, depois de passar alguns anos como prisioneiro de guerrra dos americanos, e com ele vamos descobrindo os podres dos Tenge que ele não via a tanto tempo. Apesar de Tezuka ter um traço inspirado no estilo Disney bem característico e imitado pelos outros autores de mangá, Ayako é uma história séria com poucos alívios para o humor, onde a morte acontece, fatos injustos se sucedem, inclusive a morte. E logo acontecem fatos que fazem da personagem título (e caçula) virar o bode espiatório da família, com apenas quatro anos de idade.
Uma coisa interessante apresentada é a passagem do tempo e os fatos históricos do país depois do fim da guerra: a interferência dos americanos na estrutura do país, num capítulo você descobre que os americanos fizeram reforma agrária lá (e a família dos protagonistas, antes rica e poderosa, sente isso), noutro percebe que os americanos também estão caçando comunistas e minando o movimento sindical ¬¬ Não é o ponto central da trama, mas você sente os efeitos desse movimento histórico aqui e ali, inclusive no submundo.
A medida que os capítulos avançam, cada vez menos pessoas prestam naquela família, é só ladeira abaixo. Até o cara que começa o gibi e você imaginava q seria algum mocinho logo tá mais sujo que pau de galinheiro, e quem tava ruim tava pior. Em certo momento só os personagens criança se salvam, mas na metade do gibi até a personagem central, que começou com quatro anos, vira uma adolescente de quinze e cheia de fogo =p Ou como falou um dos personagens que era decente e tá cada vez menos: "fui pesquisar nossa árvore genealógica, e ela é uma fossa".
Nos últimos capítulos, cada vez maiores, a história troca o interior decadente quase feudal pela guerra de gangsters na metrópole. Ou, melhor, as histórias, já que o formato tem um quê de novela, onde cada personagem tem um enredo menor pra contar. E o mangá acaba com dois finais =P Houve um final original publicado nas revistas periódicas de mangá e Tezuka fez algumas alterações pra versão compilada. Pra mim ambas as versões são válidas e assim diminuo a quantidade de mortes que tem no final da história ;P (Por sinal, Ayako era pra ser o primeiro arco de uma história maior, mas terminou ali mesmo e você sente isso, com um final meio artificial acontecendo num "palco" em que todas as pontas se resolvem, todas as culpas são pagas)
Como extra, o mangázão termina com um texto nacional explicando o contexto da época do mangá (põs guerra até começo dos anos 70) no Japão, inclusive relativa à arte. Muito bom.
# Veredicto: vale cada centavo e cada página.
# Bom: narrativa gostosa, as informações sobre clima político e social do Japão naquele período é interessante. Tezuka merece a fama que tem, apesar do traço ser 'fofo', ele sabe construir a narrativa e usa umas metáforas visuais inspiradíssimas - quase que bati palmas para a forma que ele usou para representar uma morte por sufocamento.
# Mau: fora algumas cenas com erotismo desnecessário e meio tosco mesmo, o final é bom mas aquém ao conjunto da obra. Gosto do traço do Tezuka, mas o estilo dele às vezes simplesmente não ornava com o tipo de história que ele queria contar. E a capa do mangá, junto do formato físico como um todo podia ter sido pensado melhor, né? Se não fosse o nome do autor na capa e de um amigo no expediente, nem pegaria =_=
720 páginas • R$ 139,90 • 2018 • veja no site da editora
notas:
1) só nas últimas páginas você descobre de onde tiraram a ilustração da capa :P
2) o texto foi feito em cima de comentários que fui colocando no grupo de leituras do telegram que criamos. Não é muito agitado, não é só de quadrinhos (na verdade, o foco é mais livros mesmo), mas é bem frequentado :P
Índice de resenhas e movimentações da minha estante:
...e estou vendendo parte da minha coleção, veja a lista aqui
DO pouco que li do Tezuka, acho que Don Dracula é bem mais introdutório que Ayako :) (mas tem muito pra ler q saiu aqui e nem peguei...) (Reply)