• Os Novos Mutantes: Entre a Luz e a Escuridão e Legião (por Chris Claremont, Bill Sienkiewicz e outros caras legais que não tão na capa) - alguns avisos antes de fazer a resenha:
1) sou tiete dos Novos Mutantes, ciente de vários defeitos da série e acho que o único ser que ainda aguarda o filme dos personagens, por mais que desconfie que será uma bomba nível Independence Day 2.
2) tenho os gibizinhos em inglês em mais de um formato, mas peguei o primeiro encadernado nacional num escambo, o outro numa promoção. Decidi reler as histórias na língua pátria (e porque meu inglês é capenga mesmo) antes de passa-las para meu sobrinho =)
Sim, sou eu que estou estragando ele com gibis, mangás, RPGs e afins.
Para os não iniciados mas como uma noção básica do universo Marvel (isso é, o povo que só conhece super-heróis no cinema e olhe lá) os Novos Mutantes são uma espécie de "time júnior" dos X-Men que foi criado assim: certa vez o criador da equipe, Charles Xavier, considerou que seus pupilos estavam mortos e decidiu recomeçar a escola com adolescentes, batizando o grupo de Novos Mutantes. Mas, logo os X-Men retornaram - afinal, é gibi e a notícia da morte deles era exagerada :P - e a partir de então as duas equipes conviveram dentro da Mansão-X que também era a Escola para Jovens Superdotados do Professor Xavier, sendo que a defesa da raça mutante e o super-heróismo eram trabalho pra equipe mais velha, e os Novos Mutantes ficariam só na parte de escola mesmo, aprendendo a lidar com seus poderes.
Claro que em quadrinhos nenhum personagem tem sossego - principalmente quando tem título próprio - então geralmente eles se enfiavam em aventuras por estarem na hora e local errados ou contrariando as ordens de Xavier (ou de Magneto, quando ele foi responsável pela equipe).
Apresentação feita, vamos ao material: esta fase dos Novos Mutantes representado nesse par de edições é elogiadíssima por causa da arte do Bill Sienkiewicz, artista com influência expressionista (eu falaria "com arte esquisita e fodástica"). O roteiro é do já veterano Chris Claremont, que pelo jeito usa o "método Marvel" para contar suas histórias: o roteirista faz um resumão de como vai ser a história (pode ser em poucas linhas, pode ser em muitas páginas, depende da neura de quem escreve e da confiança dele em quem desenha), aí o desenhista faz a parte dele e, no fim, o roteirista insere os balões de fala e recordatórios.
...daí, nesse caso, temos um desenhista que gosta de experimentar na arte e na narrativa "versus" um roteirista que ama encher a página de textos (às vezes redundantes) desesperadamente tentando dar sentido às cenas nas páginas que recebeu, dentro da história que ele planejou. Em muitas partes dá pra sentir essa briga, em que o coitado do Claremont tenta explicar (às vezes desnecessariamente) e encaixar cada quadro que foi desenhado :P
Dito isso, os dois gibis se tornam uma leitura lenta, mais pelo excesso de texto que pela densidade da mensagem^^'
• O primeiro arco é a "Saga do Urso Demônio", que se passa num plano de existência distante da Terra, ou algo assim. Só sei que é o tipo de cenário ideal para um artista como o Sienkiewicz viajar no traço, e diagramação, já que tudo que ele quiser colocar ali é lei, mais até que a vontade do próprio urso que dá nome ao arco. Os meninos se enfiaram nessa dimensão para salvar a vida de Miragem, a líder deles, que enfrentou o tal urso místico (que tinha matado os pais dela) e que agora está entre a vida e a morte.
• "Festa do Pijama" é o tipo de historinha que curto: personagens fazem algo normal (uma festa do pijama entre as meninas do grupo e amigas delas de fora da escola) e "coisas acontecem" (uma alienígena confuso chega à terra), sendo que os mutantes tentam ao máximo esconder das colegas normais o que está acontecendo, inclusive o fato deles serem mutantes :P Além disso, Warlock (o alien "tecnorgânico") é um dos meus personagens preferidos no título desde sempre.
• "A Aventura Cósmica de Míssil", feita pro primeiro anual da equipe me faz lembrar que Bob McLeod, o desenhista criador da série, é bem meia boca. Os únicos méritos desse gibi é a aparição de Lila Cheney (uma mutante que só consegue se teleportar a distâncias galáticas)(!) e ter inspirado esse fanclip aqui que vale por trilogias inteiras :D
• O arco seguinte não é o melhor mas talvez seja o mais equilibrado entre autor e desenhista. E também é o que mais lembra que os personagens fazem parte de um universo maior: Mancha Solar e Lupina tinham sido infectados com as maldições de Manto e Adaga (dois super-heróis que ganharam seus poderes num experimento com drogas) numa história escrita por outro escritor (Bill Mantlo) em outra revista e Chris Claremont decide dar mais consequências à isso. Além disso tem a participação de alguns X-Men, já que todo mundo divide a mesma casa =P
Fim do primeiro gibi.
Início do outro gibi:
• Ele começa com uma série de histórias (lembrem-se: estes livros são compilados das histórias que eram vendidas mensalmente, vinte e tantas páginas por vez :P) que passa a maioria do tempo dentro da mente de Legião, um jovem mutante catatônico, e que apesar do cenário totalmente diferente (uma cidade em guerra em vez de uma floresta mística), de certa forma repete a história do Urso Demônio: todo mundo em outra realidade e desenhista pirado com toda liberdade para pirar. Mas acho esse bem menor que aquele tanto em roteiro quanto em arte, e ambos não estão entre meus preferidos com os personagens de qualquer forma :P
• A sequencia de histórias seguinte acontece quando Mancha Solar e Magma são sequestrados para virarem gladiadores modernos (:P) e aqui a arte do Sienkiewicz funciona menos, além do arco ser mortalmente prejudicado por acontecer junto de uma das piores das mega-sagas de todos os tempos: Secret Wars 2... e a história que era para ser contada fica fragmentada, talvez destruída, porque você sente a quebra do fio narrativo, personagens somem e aparecem sem explicação... a não ser que você leia outras histórias de outros personagens da Marvel da época que contam o que aconteceu mas não está explícito no que você leu. Ah, até aqui Magneto tinha um plot paralelo que estava sendo contado devagar, até que nteressante e que pelo jeito foi completamente torpedeado pelas Guerras Secretas 2 =/ E é nesse arco que Bill Sienkiewicz sai do título, deixando um discreto agradecimento na última página.
• Steve Leialoha, o substituto de Sienkiewicz, é um desenhista com trocentos anos de carreira, nem sabia que ele inclusive tinha feito parte da chamada "Saga de Thanos" nos anos 70. E é um artista que, aproveitando a inércia deixado pelo desenhista anterior, decidiu "sujar" e estilizar bastante o próprio traço, meio que virando um primo pobre do Bill. E... me xinguem, prefiro mais essa fase que do desenhosta anterior: sim, ele é artisticamente inferior (mas bem melhor que o McLeod...), menos criativo, um desenhista convencional, mas seu trabalho mais dentro das regras encerra a "disputa" que havia entre roteirista e desenhista a cada quadro. Assim, a história - em que os jovens personagens descobrem que a vilã do arco anterior aparente é Karma, uma companheira de equipe que acreditavam estar morta - não fica truncada com excesso de explicações de roteirista que gosta de manter tudo em suas rédeas e flui que é uma beleza.
# Veredicto: as histórias são legais, mas acho que prefiro a versão com texto mais conciso da Abril :PP Falando sério, Claremont é um escritor que admiro, mas as redundâncias no texto e necessidade de explicar o que não precisa ser explicado cansa. Sei lá se meu sobrinho lerá com tanto material bom, mais famoso e mais "acessível".
# Bom: Além da arte, especialmente das capas, queria citar a diversidade. Claremont, colocou aqui personagens de várias origens e etnias: dos nove personagens, 4 são meninas e 1 alienígena que se identifica com o sexo masculino. Uma é orienta, uma das líderes do grupo é uma índia. Tem um brasileiro que fala portunhol. O outro líder é um interiorano inseguro e desengonçado e o único personagem dentro do padrão "w.a.s.p." (White, Anglo-Saxon and Protestant - branco, anglo saxão, protestante) é de longe o menos poderoso de todos. Além disso são adolescentes, com problemas da fase e tudo bem encaixado no universo quase que a parte do restante da Marvel que o autor construía na época.
# Mau: a terceira menor crítica é que arte mais elogiada da série tem a narrativa mais truncada, seguida da infeliz quebra do enredo por causa da mega-saga do momento. Mas o que me broxou mesmo nestes volumes foi a fonte minúscula que a Panini decidiu colocar dentro dos balões, sendo que dava pra aumentar ela mais um pouco.
Entre a Luz e a Escuridão: 260 páginas • R$ 84,00 • 2017
Legião: 236 páginas • R$ 92,00 • 2018
ìndice de resenhas e movimentações da minha estante:
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