"Resenhas" rápidas: Tempos de Guerra; Quadrinhos A2 #5; A Espada de Gelo

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• Tempos de Guerra (de José Duval): Essa é uma HQ antiga, daquelas que eu tinha na coleção e sumiu por motivos misteriosos (aposto em cleptomania de alguma amizade de meus irmãos) e que fui "obrigado" a recomprar, já que desde sempre achei que merecia estar na coleção. Apesar de ser é história nacional "séria" (no sentido de "não ser humor underground/infantil") no gênero que hoje é chamado de "distopia", Tempos de Guerra parece ter passado sem alarde na época em que foi publicada, o que é uma injustiça.
No futuro, o jovem Iágar muda para uma São Paulo dividida entre o povo que vive no chão, os pobres e as gangues (se matando em suas guerras e confrontando a polícia) e os que vivem nas "ilhas", as torres onde vivem os ricos e a classe média que a sustenta. Com o passar das páginas, o personagem descobre que muitas das gangues são lideradas por gente controlado pelos figurões das ilhas (e isso ele acaba resolvendo) e que as ilhas só se importam com eles quando dão problema (e falar disso é contar o fim da história).
Criação do (aparentemente sumido do mercado) José Duval, Tempos de Guerra tem todos os elementos desse tipo de história, com arte meio estilizada meio realista, contando em cenas que vão compondo uma história maior. Com quase um quarto de século, as críticas que o autor faz à sociedade, à manipulação política e da opinião pública, a cultura do "pão e circo" e o pessimismo quanto à efetividade "soluções" contra o status quo dominante continuam todas presentes.

# Veredicto: Se achar num sebo, compre! Merece muito uma republicação melhor que o papel "jornal".
# Bom: roteiro, arte, como o autor lida com os personagens e o mundo na medida exata sem sobrecarregar a história com muitas "aulas" (mas isso acontece ocasionalmente) (e, parando pra pensar, fiquei querendo saber mais desse universo :P). E o velho Muls é aquele tipo de personagem terciário que é um achado :D
# Mau: muitos elementos da distopia de TdG não são exatamente novos, e o ponto mais baixo é o tratamento dado aos personagens negros, quase como se fossem uma tribo africana de filme estereotipado ("Mibú e sua tribo", por favor, né? ¬¬'), que fazem a diferença, mas são sempre os secundários. Um clichê ruim que já era velho no ano em que a HQ foi publicada.
68 páginas • publicado em setembro/outubro de 1993

Notas:
1) José Duval fez algumas histórias para a revista do Niquel Náusea na época [insiram aqui elogios à Fernando Gonsales por décadas fazendo tirinhas sobre biologia e não ter perdido a graça ainda] e publicou outra HQ, O Entrincheirado Hans Ribbentrop, que apesar de ser humorístico, não curti tanto.
2) curiosidade histórica aleatória: apesar do clichê da ficção científica de "pobres em baixo, ricos na parte alta" (e na vida real temos os preços caríssimos de coberturas de prédio), no império romano isso não acontecia. Haviam prédios de vários andares, as insulae ("ilhas", assim como na HQ, mas em latim), destinadas as classes mais pobres. O térreo era dedicado ao comércio, e os andares superiores (alguns textos falam em sete andares!) eram para moradia, e quanto mais alto você morava, menos você pagava - já que água não chegava lá facilmente, e bom lembrar que não existiam elevadores na época. No geral as classes ricas vivia em habitações térreas/sobrados, os domus e as villae (devo ter errado alguma info, sempre erro, mas no geral é isso :P)

• Quadrinhos A2 #5 (de Paulo Crumbim e Cristina Eiko): Histórias do cotidiano de um casal paulistano (e seu cachorro), com um toque de fantasia e exagero, sempre com bom humor e um senso de narrativa gráfica afinadíssimo - é o que você vai ter aqui. Vai ter história com desespero implícito sobre pum, história boba sobre catota (falante). História sobre o que passa quando resolve meditar em silêncio por horas e outras, tem também.

# Veredicto: estou sempre esperando a edição seguinte (geralmente tem um A2 por ano), por ser divertido, sem pretensão e a arte/diagramação só evolui.
# Bom: além de tudo acima, acabamento gráfico. O livretinho (apesar de se chamar A2, é quase um A5) é bem acabado, melhor que muitas editoras por aí.
# Mau: além do volume ser rápido de ler, não é o tipo de história que todo mundo curte. E também diria que a edição estava boa, mas não foi das melhores^^"
140 páginas • R$15 • Clique aqui e adquira no site dos autores!


• A Espada de Gelo (Disney): Mais um encadernado Disney (dessa série já resenhei "Iniciativa Super-Heróis", "Um Brasileiro Chamado Zé Carioca" e "História e Glória da Dinastia Pato"), dessa vez juntando as quatro histórias em que Mickey e Pateta participam de uma premissa simples mas eficiente: eles são transportados às Terras de Argaar, uma dimensão típica de mundos de fantasia (há elfos, há monstros, há magos, há um arquivilão, tem até mapa!!), geralmente para enfrentar o Príncipe das Névoas (e, principalmente, problemas derivados dele), mas sempre na noite da véspera de Natal.
Ao contrário do que se pode esperar, o camundongo fica quase como coadjuvante: Pateta é o "herói" da trama, apesar que o mundo e seus personagens nativos que tem o maior naco da força narrativa. Enfim, a Espada de Gelo não é uma grande trama ou obra prima, mas dá gosto ver que um mundo meio desconjuntado e genérico no primeiro episódio ganha personalidade gradualmente, e quase que uma mitologia própria. E descobrir que nem sempre os mocinhos se dão bem, mas saem melhores do que chegaram assim mesmo.

# Veredicto: me divertiu sem precisar desligar o cérebro, nem força-lo.
# Bom: os personagens "novos" são carismáticos, até por que são velhos conhecidos: o mago/sábio, os camponeses que tem de se virar como soldados, etc. Além disso, volta e meia a diagramação brinca com os quadros, fazendo eles assumirem formas estranhas ou colocando molduras nas páginas ou adotando soluções inusitadas.
# Mau: o texto introdutório tentando vender o peixe comparando A Espada de Gelo com Senhor dos Anéis ou Guerra nas Estrelas. Ignore isso - essa coleção de histórias não é tão grande-importante-megasaga como estas duas, mas tem sua própria personalidade. Outro defeito é o peso dos personagens Disney, mesmo com todo um ambiente legal em torno, Mickey continua o insosinho de sempre (deve ser por isso que virou coadjuvante) e Pateta está um tanto atenuado (senão não há epicidade que se sustente).
324 páginas • R$59,90


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