Antes, duas não resenhas: recentemente fui ao cinema com dona namorada e vimos:
• A Chegada (Arrival): O.trailer.diz.nada e fui com o espírito de "ah, legal, mais um filme de etê. Só vou ver pq tão falando bem". Saí do filme sem falas, procurando a frase em chinês que a doutora disse e xingando o roteirista por ser tão fdp escondendo coisa.
• Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures): um filme de estrutura mais simples (é um filme, não ciência de foguete!), mas com tema mais necessário nesses nossos tempos: racismo, sexismo, segregação e a maldita mania das pessoas enfiarem a si mesmo e os outros em caixinhas com regras limitadas. E sim, é um filme leve, divertido e pra cima =)
Talvez eu escreva algo mais "de verdade" quando sair DVD e eu reassistir ^^'
• Black Silence (de Mary Cagnin): Num futuro distópico, um grupo de astronautas vai a outro planeta, nosso futuro novo lar, já que a Terra está com os dias contados. No passado, Mary Cagnin fez a HQ Vidas Imperfeitas, que chegou a ser publicada no meu site :B E foi finalmente impressa e terminada em três volumes pela HQM. No presente, ela decide publicar sua ficção científica via Catarse, e consegue :D
Bom, eu sou desconfiável para fazer uma resenha aqui, um péssimo hábito meu é de ser muito bonzinho ou muito cruel com trabalhos de gente que eu conheço. Sou fãzaço do traço da Mary e certeza que a pessoa tem de ter uma pedra no lugar do senso crítico para não curtir a arte dela. Mas o enredo não me fisgou, talvez por ter poucas páginas, você sente que Black Silence tem uma explosão de idéias legais contidas para caber em pouco mais de cem páginas: os personagens volta e meia dão pistas de uma riqueza que não demonstram atuando (e você tem certeza disso lendo a ficha deles no final), e mesmo as interações são contidas. A história de nosso mundo naquela realidade futura parece ter acontecido muita coisa, mas só nos é revelado poucos fragmentos - a capa traseira quase dá mais infos que dentro da própria história - , e menos ainda é dito do enorme mundo onde eles vão parar, mas tão pouco que não dá combustível suficiente para gerar impacto na cena final.
# Veredicto: gosteizin e sei que sou chato exigente.
# Bom: representatividade (3 mulheres (duas negras, uma horiental), 2 homens (brancos)). A arte e os cortes de cenas estão perfeitos. A temática espacial me atrai, a capa é linda e espero que ela se arrisque mais com obras futuras =)
# Mau: faltou espaço para me apegar aos personagens, tempo para dar a história a força necessária.
104 páginas • R$30 • Clique aqui e adquira na loja da autora
PS: ainda to cismado que uma nave com apenas cinco pessoas, contenção de espaço etc tenha o luxo de um banheiro masculino e um feminino.
• Homem Máquina (por Tom deFalco, Herb Trimpe e Barry Windsor-Smith): Lembro de terem lançado esse gibizinho na última FIQ (melhor evento de quadrinhos <3) e estranhei: "ué, por que lançaram com capa dura e efeitos metalizados?" Nenhum dos autores estava no evento (ao que eu saiba) e a enredo não era lá grandes coisas (tanto que em 1988 tinha saido por aqui meio que escondida na falecida Heróis da TV (edições 102, 103, 104 e 105), da editora Abril - se você ver as capas, não vai achar chamada alguma sobre essa história :P)
Minto, tinha uma coisa legal (e só): o visual cheio de engrenagens de Arno Stark, o canalha Homem de Ferro de 2020:
2020? Ah, sim, esqueci de contar: o gibi foi escrito em 1984 e se passa daqui a três anos: nosso personagem principal, o Homem-Máquina (um andróide que nasceu como coadjuvante de luxo (graças à Jack Kirby) da quadrinização Marvel de 2001, uma Odisséia no Espaço) foi desligado na sua era e acorda nesse futuro distante aí, décadas depois, resgatado por um grupo de caçadores de sucatas robóticas.
Claro que esse tipo de história vai ter:
1) personagens da mitologia do herói revisitados com versões mais velhas (mas o HM é um personagem tão terciário que reconheci ninguém, tirando a sem sal da Jocasta)(e ainda pioraram o visual da robozinha),
2) uma megacorporação que controla tudo, e, obviamente, perseguindo o nosso amigo robô,
3) carros voadores, motos voadoras, deve ter até skate voador mas não prestei atenção,
4) briga de robôs,
5) e nenhuma previsão correta sobre a internet. Nem mencionam, na verdade.
E só teve isso. O enredo segue no automático, os personagens não tem apelo e nem tempo de se desenvolverem - sequer tem algo de novo neles. Acho que a Marvel só acertou criando um futuro quando criou o universo 2099.
# Veredicto: se for comprar, procure no sebo os gibizinhos dos anos 80 que citei acima: além do texto ir mais rápido (por estar reduzido para caber no formato), você vai conhecer o Thor em sua melhor fase. Esse gibi não vai morar na minha estante e continuo não entendendo por que uma história tão normal foi lançada em formato de luxo.
# Bom: além do visual do Homem de Ferro 2020, tem o traço do Barry Windsor-Smith, que arte-finaliza três partes (melhorando alterando bastante o traço do Herb Trimpe) e faz toda a arte do capítulo final. Não é dos meus ilustradores preferidos, mas é um senhor de respeito merecido.
# Mau: ia falar que Homem-Máquina seria mais um tijolo do Templo das Boas Idéias Desperdiçadas, mas o conceito da história não é tão bom mesmo, nem era criativo, em qualquer era.
100 páginas • R$26,90
• Armada (de Ernest Cline): Taí um livro que me "obrigou" a chegar até o fim: devorei as páginas em cinco dias, sempre querendo saber mais - sobre o destino dos personagens, sobre o que iria acontecer na cena seguinte, etc etc.
Então, é um livro excelente?
Não.
É bonzinho.
Mas antes, deixa eu falar do livro: jovem, criado pela mãe, já que o pai faleceu quando ele era bebê ainda, viciado em games e consumidor de muita tralha cultural dos anos 80 (culpa da herança do falecido: ele deixou filmes, jogos de video game, livros, rpgs etc) se acha doido por ver uma espaçonave inimiga de seu jogo preferido, Armada, voando perto da escola dele durante uma aula. Logo ele descobre que não está maluco, realmente viu uma nave, que o jogo não era só um jogo - mas um treino e seleção de pilotos de naves espaciais no mundo inteiro contra uma iminente invasão dos alienígenas de Europa (não
A partir daí, com essa premissa dando inércia, mais as estruturas de enredo mais que testadas em filmes juvenis da década homenageadas (O Último Guerreiro das Estrelas é inspiração assumida, tá na capa traseira), muitas, mas muitas referências nerds de todas as eras - pelo martelo de Grabthar!! - além do fato da história mais dá que tira do personagem: poucos obstáculos se sustentam, há perdas (algumas enormes), mas ele tem muito mais ganhos no placar. É muito satisfatório! E é óbvio que eu devoraria as páginas em velocidade de foguete até o fim.
Mas satisfatório tipo uma refeição de fast food, é saboroso dentro do que se propõe, os ingredientes e técnicas de montagem são familiares, só que não te nutre muita coisa. Só passou um tempo legal numa atividade de recompensas imediatas.
E, de quando em quando, isso não é mau de se fazer.
# Veredicto: Uma boa distração escrita por quem sabe manter o ritmo da narrativa.
# Bom: Referências nerds (talvez até canse), não perde tempo. Apesar de todo personagem que não é o Zack Lightman (esse é o nome do protagonista, tinha esquecido de falar. Mal aí) ser bem menor que ele pra narrativa (além de serem bastante bidimensionais), as garotas, desde a mãe até a namorada que ele acha no caminho, não são "enfeites", elas fazem algo. E, curiosamente, ao que me lembre todas as baixas do livro são essencialmente masculinas. Ah, sim: é o livro que eu gostaria de ter escrito aos quinze anos!
# Mau: em alguns pontos tenho a impressão o autor está completando uma lista de coisas a fazer: valentão na escola ("check", ouço ele dizer em minha mente), namoradinha ("check"), primeira missão desastrada ("check"), etc. Isso é incômodo. Mas o que mais me deu coceiras é um personagem adolescente, na verdade, vários personagens civis (de várias idades), serem enfiados numa estrutura militar (no formato pasteurizado pela ficção de origem estadunidense) e eles aceitarem passivamente e até acharem legal isso. ¬¬
432 páginas • Editora Leya
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