Estou fazendo com namorada um curso de roteiro com namorada (e está muito bom, não é pq o professor era amigo do meu irmão em meados da aborrecência desse).
Decidi postar aqui os exercícios de texto que tivemos :P O primeiro foi fazer um conto baseado em algum caso da vida da gente. Falhei miseravelmente:
Tenho dificuldades em tirar histórias de minha vida. Não que ela seja particularmente chata ou isenta de fatos legais, mas é a dificuldade de achar o "quê" daquele enredo, embalar aquele acontecimento com um significado para o leitor. Aí, me enfiei num curso de roteiro. Então, o professor pede... para eu contar algo de minha vida õ.ó E se bem que o velho roteirinho de "ah, sou escritor e vou contrar sobre a minha dificuldade de escrever" é um recurso mais batido que vitamina de leite com banana e neston. Pfiu! Quem disse que escrever é fácil? Enfim, o tempo é mais curto que as idéias e o professor deixou a gente inventar um pouco em cima da história. Erro dele... "UM METEORO CAIU EM CIMA DO PROFESSOR!" (problema resolvido :)
Mas no fim da aula, a "lição de casa" foi refazer o texto inserindo um elemento de fantasia. Acho que me saí melhor. Acho...
Terra, o ano é 2999. Confesso que faltei às aulas de história, então não sei se quando eles chegaram estávamos em paz ou se estávamos em guerra ou se apenas estávamos gastando tempo e alimentando brigas inúteis na rede. Prazer, meu nome é Letra e sou uma das poucas que tem ainda tem algo que pode ser considerado um nome. Ou que conhece tantas palavras, já que cresci numa comunidade de contadores de histórias, onde velhos tomos de celulóide eram tratados melhores que crianças. Os livros eram frágeis, muitos dos melhores foram destruídos pelo tempo, pela natureza, pelo desleixo, eles estavam acabando. Já crianças, sempre teremos mais e mais. Nem a invasão acabou com elas, né? Frio. Alguns panos velhos não me protegem dele. Lá embaixo, os invasores me olham e não ligam, não represento risco. Nem uma nem bilhões de nós chegariam a ser um problema para eles, que chegaram, rasgaram nossa civilização como se fosse uma roupa gasta da Terra e foram tomando tudo, devagar, à medida da vontade deles, imparáveis. Agora somos retalhos flutuando ao vento da história, conservados por eles por respeito obrigativo ao passado. Um pulo, quase não chego ao edifício vizinho. É tudo metálico, duro e liso demais. E frio. - Conte uma história, uma história de tua vida. Assim como quem me esperava. Quando criança, me destaquei entre as demais por saber contar histórias e perceber as sutilezas do comportamento humano com tão pouco tempo de vida. Me separaram e me educaram nos velhos conhecimentos, na esperança de que eu descobrisse novas idéias nestes tempos estéreis. Mas, a gente cresce e nem tudo que matura segue o esperado: tenho dificuldades em tirar histórias de minha vida. Não que ela seja particularmente monótona ou isenta de fatos interessantes, mas é a dificuldade de achar o "quê" daquele enredo, embalar aquele acontecimento com um significado para o leitor. Mesmo que seja uma máquina vinda dos confins esquecidos do céu. Eu esperava tudo do Quinto Arcanjo. Pensei que teria de recitar trechos decorados dos velhos tomos ou adivinhar problemas cuja resposta óbvia fica oculta até descoberta. Menos isso: que eu contasse minha vida. E estava frio, e eu estava à beira de um despenhadeiro da altura de montanhas. E toda as histórias de minha vida fugiram de mim ao ver os frios olhos vermelhos do autômato. Precisava de tempo. - Cinco minutos. Ele lera minha hesitação, meu corpo deve ter dado mil sinais. Eu tinha de contar algo e agradá-lo. Se conseguisse, meu povo terá alimentos pelos próximos onze anos. Em gerações, ninguém nunca os desagradou, mas os velhos dizem que houveram vários "quase", mas sempre havia benevolência no fim. - Eu.... - Três minutos. Problema que "quase" é "quase". O quanto faltou, em todas esses séculos, para abrirem os portões da fome sobre nós? - Eu... euvoucontar sobreminha dificuldade em contar histórias sobre mim mesma! - disse sem respirar. Expontaneamente, joguei meus braços para o ar e pontuei o fim da minha frase com o som de minhas mãos batendo em meus quadris. - Não é justo, aposto que meia hora atrás eu me lembraria de mil coisinhas pra te contar, agora tenho nada, só a vontade de que tudo acabasse logo, que um meteoro caísse em cima de minha cabeça, que o chão me engolisse, problema resolvido. - Um minuto. - Um minuto para quê? Para decidir se o que te contei, que não foi sequer uma história de minha vida, vale a fome ou nossa subsistência? - Trinta segundos. O vento ainda soprava, me forçando a fechar os braços. O robô ainda estava lá, imóvel e eu olhava em volta, tentando me distrair da contagem, nada acontecia, além do coração ansioso dar pulos a cada número citado: - Dez segundos. A mão metálica começava a se mover. Quando o polegar apontasse para cima, como sempre apontou em todos estes anos, voltarei para casa, vitoriosa frente ao meu povo, livre da responsabilidade que não pedi. - Cinco segundos. Quatro segundos. Três segundos. Cruzo os dedos, velha superstiçãDOR! Letra sente o calor de seu sangue cortar a monotonia do frio em sua pele. Suas forças se vão, sua vista some em pontinhos pretos que parecem consumir sua consciência. Assim que seu coração para, o robô chamado Quinto Archanjo retira sua mão do tórax da sua vítima, altera sua forma metálica para mimetiza-la à nível celular e segue o caminho inverso que a humana seguira. Era a sua vez de pastorear o antigo povo daquele mundo.
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