*Para mim*, steampunk é aquele gênero de histórias de ficção científica que tenta resgatar o clima das primeiras histórias do gênero: são passadas numa Era Vitoriana imaginária, com maquinários fantásticos (de computadores à maquinas voadoras, utensílios domésticos e tudo o mais) movidos à vapor cheias de engrenagens e rebites, a ciência vista como benéfica e progressista... É comum dizerem que são histórias ambientadas em universos similares aos criadores da FC como a conhecemos: Verne, Wells e cia.
(Falei em Ficção Científica, mas algumas vezes o gênero cai em História Alternativa, o que não deixa de ser interessante. Nesse volume, várias histórias poderiam ter como chamada "o que aconteceria se... a República não tivesse sido proclamada" ...deve ser nossa ucrônia favorita^^)
Eu sei que não é essa exatamente a explicação oficial pro termo, mas é quase (pros detalhistas, a wikipédia tá aqui, a um clique de distância) e foi com esse conceito em mente que peguei Steampunk – histórias de um passado extraordinário, lançado ano passado pela Tarja Editorial, uma das poucas no Brasil a investir de verdade em textos nacionais de Ficção Científica e Fantasia, pra ler :) O livro é uma onde autores nacionais escrevem nove histórias steampunk...
...ou quase isso.
• Peço desculpas ao Gian, mas seu texto não merecia estar na abertura do livro que ele mesmo organizou :/ "O Assalto ao Trem Pagador" tem tudo o que se espera de uma história "steampunk", mas não inova nem no gênero nem no enredo - que é quase genérico: só trocar os dirigíveis por naves espaciais, uma maquiada ali, aqui e voilá, habemus space opera!! - não me empolgou, e ainda cai na maldição nacional de parecer um prólogo de uma história maior.
(Abertura e fechamento de livros de contos são áreas nobres, lá deve ficar o filé... x) )
(Depois dessa, acho que meu destino é a lulu.com mesmo...)
• "Uma Breve História da Maquinidade", do Fábio Fernandes, é um dos textos que mais gostei aqui: é uma história alternativa centrada no dr Victor Frankesntein e seu novo experimento, depois do famoso fracasso anterior. É uma rápida ucrônia tão bem feita que me deu vontade de jogar todo background q fiz para Klara, mas talvez o que mais me apeteceu no texto seja o seu maior defeito: é mais uma sequência de fatos e consequências do que uma história com personagens e tramas.
• O conto "A Flor do Estrume" é o mais divertido do livro e um dos mais otimistas. Como é praxe nos contos do Antonio Luiz, transpira ambientação (talvez seja mais um conto ucrônico que steampunk) e de brinde temos como personagens centrais figuras saídas da obra de Machado de Assis (o que vem a calhar, já que nosso melhor escritor é "contemporâneo" do steampunk): Quincas Borba e Brás Cubas. Ah sim, como é de praxe nos textos do Antonio, tem cenas proibidas para menores de dezoito doze x)
• Parece que se tornou clichê em outras resenhas falar que "A Música das Esferas" é "mangá" ou "juvenil". Até entendo o motivo da crítica, afinal o Alex Lancaster é desenhista e tem um blog especializado em quadrinhos e animação japonesa, é natural que isso reflita no seu trabalho.
Mais: no conto ele usa personagens de um projeto de quadrinhos que espero ver vigar um dia!
Mas: acho injusto rotular um dos contos mais divertidos e menos pretensiosos do livro pelo que o autor fez ou é. Um músico não faz contos musicais, um dramaturgo não faz contos teatrais e não tem por que um conto feito por um quadrinhosta ganhar um rótulo diferente por estar fora do nicho. A Música das Esferas é uma boa aventura em forma de conto, dirigida a um público mais juvenil que a alguns dos textos (não todos) no livro e que não deve nada e supera muito trabalho de mimimi-bububu-eu-sou-um-escritor-puro-sangue que tem por aí.
• "O Plano de Robida: Un Voyage Extraordinaire", do Roberto Causo é outro conto de aventura, com personagens reais (Santos Dumont) e fictícios do período (Robida, de Júlio Verne) (uia, acabei de descobri que estava confundindo Robur, o personagem de Verne, com Albert Robida, outro escritor de FC do período =x ) que recebe o selo mushi-san de aprovação. Só que também é outro conto que termina meio que continuação para o próximo capítulo...¬¬'
• "O Dobrão de Prata", do Cláudio Villa, é um conto bonzinhozinho... e lovecraftiano, não steampunk. Está no lugar errado. Sem mais.
• Esquisito, estranho, bonito, original, confuso... new weird? "Uma Vida Possível Atrás das Barricadas", do Jacques Barcia toca um ponto pouco lembrado do século XIX que foram as revoluções e ideologias nascidas no período, mas de uma forma tão incomum (experimental?) que tenho certeza que muita gente vai ter dificuldades de ler e gostar.
• "Cidade Phantástica" do Romeu Martins é o outro conto do livro que não me apateceu. Não sei se foi ter enredos demais num só conto (começa uma coisa, vira outra e termina como outra, como já me apontaram) ou se alguns personagens ficaram caricatos demais, ou se simplesmente não tem "novidades" na história. Não curti.
De repente, mui provável, eu que seja chato mesmo^^
• "Por Um Fio", do Flávio Medeiros, entra fácil na lista dos três melhores contos da coletânea: o melhor submarino do Império Francês, escondido e avariado sob o mar, versus o melhor dirigível do Império Britânico. Uma batalha mais de nervos que de armas, onde a honra e conhecer o inimigo contam :)
E é só, apesar dos tropecinhos, é um livro que gostei bastante :D e, se eu cometi alguma imprecisão nas "resenhas", e por que o lesmão aqui leu o livro em janeiro e só decidiu fazer o texto agora......,@ö
• Site do livro na página da editora