Papo de Segunda*, 12/10/2010 - O Grande Problema das Histórias em Quadrinhos Brasileiras é...

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...Que a maioria dos autores se preocupa em "vender sua história como BRASILEIRA ou QUADRINHOS, mas raramente como HISTÓRIAS.

Não me levem a mal, não sou nacionalista, nem um daqueles babacas que falam que "tudo que é brasileiro não presta ou vai dar errado" - outro dia discuto a imbecibilidade de falar pejorativamente "só no Brasil que acontece isso" - tenho até uma bandeira do Brasil no quarto, que não acho a "mais bonita do mundo" como alguns condicionados falam, mas gritar aos quatro ventos que um dos "méritos" da sua história é "ser brasileira" é MULETA, uma desculpa incompetente para justificar uma história de qualidade duvidosa. Eu, você, o público, o universo e tudo o mais já vimos um monte de coisas medonhas sendo empurradas com uma bandeirinha verde e amarela estampada.
Enfim, falar que tua HQ é linda e maravilhosa por ser "brasileira" não cola.
O que você faz para outras pessoas apreciarem (pagando por isso ou não) tem de ter mérito próprio, não se apoiar na solidariedade alheia.


A ênfase em "quadrinhos" como virtude de um trabalho é para mim outro errãozão. Alguns podem pensar que vou falar no argumento dos "mais antigos", de que quadrinhos (e animação) é tudo coisa de criança, tudo sub-arte - esse tipo de pensamento está visivelmente menor que há uns dez anos atrás, mas já deu merda no estado de São Paulo nos tempos recentes - mas acho que o problema é justamente o contrário: quadrinhos é uma arte e até que está bem reconhecido como tal (exceto pelas bestas do naipe citadas acima) e por causa disso, a ênfase em "Quadrinhos" acaba por elitizar seu trabalho e...
... bom, isso espanta a maioria do público.
Poucos vão à um cinema ver Cinema, mas para assistir "um filme", certo? Não se vende uma história como se fosse "ideal para festivais de cinema" tendo em mente um público mais "pipoca". Para mim, por "Quadrinhos" bem grandão na capa acaba por espantar o público mais normal e menos inteirado à arte.

Tá, há quem queira ter um público seleto, e tal, mas, puta que o pariu, não me venha depois chorando que no Brasil não tem a poha do mercado que te sustente, ok?


O que o público "normal", aquele publicão enorme aí fora que não está no gueto (e tem quadrinhistas cá de nossa terra - e tem escritores de fantasia/ficção também, diga-se de passagem - que parecem gostar é de ficar no gueto e nas panelas da vida chorando a incompreensão do mundo malvado lá fora) quer são HISTÓRIAS, histórias para se divertir, histórias para fugir, para aprender, para se identificar, não importando a forma de como é contada nem de onde ela venha.
É muito fácil colar adjetivos pomposos em um trabalho e depois posar de mártir injustiçado dos Quadrinhos Brasileiros, é fácil abandonar depois da primeira crítica ou fracasso, é fácil disputar espaço em um nicho já consolidado, mesmo que ele esteja encolhendo. Difícil é criar bons personagens e tramas que conquistem um público, difícil é ter persistência, visão e paciência, difícil é conseguir conquistar mais leitores, conquistar quem não lia quadrinhos anteriormente por causa dos seus vícios e guetos, aumentar a base de leitores existentes.

Enfim, quando os autores brasileiros decidirem fazer histórias para humanos e não para quadrinhófilos ou nacionalistas de butique, a gente vai pra frente. É o que eu acho.

* Apesar de ser tradicionalmente postado às segundas-feiras, o papo é de segunda pela qualidade do monologador :P

14 Comentários

Jussara Gonzo em 12/10/10, às 16:36: Falou pouco, mas falou bem! (Reply)
Kari Esteves em 12/10/10, às 16:40: Hum... isso é realmente algo para os jovens artistas refletirem, pq o q precisamos é de uma nova safra de empreendedores.
Uma mania q precisa ser erradicada: Se encantar com o q vê e esquecer de LER. Mtos "sucessos" foram pro saco assim. (Reply)
Quadrinze em 12/10/10, às 17:55: "Compra aí para apoiar os quadrinhos nacionais!" :p Estou me coçando pra não citar uns exemplos. Mas isso é desnecessário, a mensagem foi dada e está bem clara. (Reply)
Felipe Avelino em 12/10/10, às 18:42: *cof* *cof* *Turma da Mônica Jovem*!! *cof* *cof* *Luluzinha Jovem*!! Mas tem brasileiro que publicam histórias em quadrinhos, só não é aqui no Brasil (Reply)
Fabiano Alves em 12/10/10, às 19:26: Zé Roberto, como de costume, uma ótima postagem!
..........
PERAÍ, VC É O MUSHI, OMG!!!! =O (Reply)
Gilvany S em 12/10/10, às 19:30: Bom, isso é algo relevante e real.......
Construir uma cultura solida e renovável de leitores no brasil, tem sido uma tarefa desafiadora.
Assim como foi denunciado, alguns vicios do perfil atual do leitor de QH brasileiro(ufa!), existem vicios da parte do artista ou autor...
Acontece que essa cultura não é nossa( HQ, Animes, Livros), é uma importação de produtos que invadiram o nosso cotidiano( por isso se vê brasileiros colegiais comendo hamen e decorando letras de musica japonesa, ente outras coisas..) Não que isso seja ruim...mas pra sobreviver, a HQ brasileira precisa atingir pessoas que não fazem a mínima idéia do que é manga, brasileiros, não importando a idade ou posição social. É ai que surge a necessidade criar algo que identifique ou que digamos: essa HQ é brasileira.
Nós não comemos sushi, não falamos japones, não somos um país de primeiro mundo, o cotdiano de um jovem brasileiro e um jovem japones são completamente diferentes.
Talvez uma visão mais rcitica e literária se faça valer para descobri tramas interessantíssimas e nativas desse país e não uma versão pop do estrangeiro. (Reply)
Yu-chan em 12/10/10, às 21:00: Adorei seu post, e vc tem razão, o que falta nos HQs brasileiros é a criatividade nas histórias e colocar sobre o cotidiano brasileiro. Por exemplo: na questão das roupas, escola, comida, o jeito de como as pessoas vivem aqui e sobre o que nosso país pode contar de interessante. Existem tantas histórias em livros muito bons brasileiros, podemos colocar essa criatividade e carisma nos quadrinhos também! e não optar por modas estrangeiras, não só japonesas, mas americanas tambem.
Quem nunca viu no Natal por exemplo propagandas e produtos "brasileiros" com roupas de inverno (em pleno verão), e comidas quentes como assados.
devemos valorizar e explorar mais o que temos aqui! (e apesar de ser descendente de japonês, eu queria fazer historias contando sobre a cultura brasileira, q é mais diversificada do mundo!) (Reply)
Mary Cagnin em 12/10/10, às 22:18: Caramba, tanta coisa pra dizer que eu nem sei como começar. Talvez eu deva escrever antes q meu cerebro entre em parafuso.
Outro dia estava discutindo sobre um tema parecido (e bem intrinseco) no twitter, q era sobre os editais e 'apoios governamentais' as historias em quadrinhos, q em geral apenas selecionavam historias educativas, regionalistas, e/ou politicamente corretas, aquelas q seriam facilmente aceitas pelos pais dos aluninhos, evitando todo aquele escandalo de "meu filho leu palavrão num 'gibi'" e é bem por isso q quadrinhos no brasil ainda é leitura para crianças e não tem espaço para amadurecer... quer dizer, espaço tem, mas ele é tão apertado que é quase como se não existisse. Isso me deixa muito revoltada, pq existem mtas historias boas q continuam anonimas, e autores com potencial q acabam desistindo por não acreditar q tenha futuro! Eu não acredito muito nesse negocio q quem é brasileiro precisa fazer algo brasileiro e por aí vai... apoio a liberdade do artista, pq oq vale mesmo é a mensagem q ele quer passar, como ser humano e não como um brasileiro. Falar sobre o país é valido (adoro ler sobre a historia de outros paises, mas se não tiver algo q me prenda ao enredo, é mais facil ler um livro de historia) enfim.. é complicado falar sobre isso pq HQ é uma arte q ainda está engatinhando (pelo menos por aqui) (Reply)
Marcus Beckenkamp em 13/10/10, às 09:48: Realmente, empurrar algo para compra com a desculpa de ser nacional não tá com nada. Acho que devemos sim valorizar nossa cultura, mas não comprar porcaria só porque é nacional. Hqs são produtos, assim como filmes e livros, e devem ser pensadas dessa forma para o público que realmente irá consumí-la, se quiser que saia do mundo independente e crie algum mercado. Assim como os filmes nacionais estão começando agora a sacar isso, acredito que um dia os criadores de HQ também entenderão. Mesmo assim, acredito que trabalhar com o que temos de cultura é uma ideia interessante. Curti o projeto do Studio Seasons de trabalhar com o livro de Machado de Assis, por exemplo. =) (Reply)
Cris em 13/10/10, às 11:16: Concordo com você, Mushi, não só nos quadrinhos como em outras áreas. Cansa o povo viver reclamando que não tem público, que é incompreendido, mas só sabe falar do próprio umbigo. Umbigo por umbigo, eu fico com o meu. (Reply)
Daniel Folador Rossi em 14/10/10, às 23:53: Concordo, tem que se ter em mente o público que se quer, seja em qual mídia for. Muita gente critica os best-sellers (sejam livros, sejam quadrinhos), que não apresentam a melhor elaboração na arte a que pertecem, mas souberam cativar o seu publico. (Reply)
Petra em 15/10/10, às 01:35: Concordo em gênero, número e grau. (Reply)
Borges em 21/10/10, às 10:22: Concordo em gênero e número ingual. (Reply)
CleanWater em 18/02/14, às 13:32: Obrigado, acho que estava mesmo precisando ler algo assim.
Vou parar de coçar o s@%* e voltar a desenhar agora mesmo!!! (Reply)

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