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Pelo jeito eles eram péssimo sequestradores: dava para ver nitidamente o rosto deles por baixo das meias que eles usavam como máscara. O nó que amarrava a corda em seus braços era tão eficiente quanto o que ela usava pros cadarços. E eles nem se preocuparam em vendar os olhos da vítima, que marcava mentalmente os supermercados, nomes de ruas e linhas de ônibus que cruzavam o caminho do automóvel. Sob o ponto de vista da eficiência, aquilo ali era uma tristeza e nossa heróina - de mãos desatadas - só não reagira por prudência. Apesar de tudo, os dois homens estavam armados, e idiotas armados são mais perigosos que profissionais.
Em algum momento do trajeto, alguma partícula de sabedoria acertou a mente do sequestrador do banco de trás, que pôs um capuz na menina. Esta por sua vez, contou as três esquinas que eles viraram antes do carro parar e ordenarem para ela sair do carro. Sob o capuz, Klara sentiu o brilho do sol, teve a completa noção de estar pisando em asfalto antes de ir para a calçada, ouviu crianças brincando ao longe enquanto uma arma estava apontada em suas costas. Alguma planta de jardim bateu em suas pernas enquanto ela avançava no quintal - sua imaginação desenhou um caminho de cacos de cerâmica vermelha levando do portão à porta - até chegarem ao que sensivelmente seria uma varanda e ser levada por poucos cômodos até seu cativeiro.
Um dos homems mal-mascarados tirou o seu capuz, e a trancou no quarto: amarelo-descascando-revelando-tijolos-de-barro, piso de cerâmica vermelha (bingo!), porta de madeira não pintada, sua mochila pendurada num gancho e... uma janela? o.O'
Santa incompetência.
E nem para ser vítima de um sequestro normal ela estava conseguindo ser...
つづく
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