"Tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé."
(Antoine de Saint-Exupéry)
"As cartas de amor, se há amor, / Têm de ser / Ridículas.
Mas, afinal, / Só as criaturas que nunca escreveram / Cartas de amor / É que são / Ridículas."
(Fernando Pessoa)
"se já sei que não vou ganhar, por que ter medo de perder?"
Bom, toda novela tem de acabar, e essa que eu vivo não vai fugir da regra. Agora é o último capítulo, peguem a pipoca no microondas e prestem atenção para não perder algum detalhe, apesar da maioria das pessoas com quem convivo na net já conhecerem a história de cor e salteado, com todas as reviravoltas e boletins de última hora. Alguns já perderam o fio da meada no começo da história, outros começaram a ouvir meus relatos disso tudo mais recentemente (com uma versão resumida e obviamente parcial dos fatos, mas fazer o quê?), mas não vou citar nomes aqui. Os personagens que se reconheçam, mas já aviso a estes que não ter nome citado não é sinônimo de anonimato. Pelo contrario: o que vou contar aqui é domínio público entre os que me aturam e deve ser uma das histórias mais espalhadas da rede ^^
Dois mil e três foi para mim o ano do "Crime e Castigo", o ano chegou comigo cheio de dúvidas com meu namoro e minha incompetência em encerrar ele: era namoro a distância e fiquei 10 meses querendo descobrir um jeito de encerrar tudo sem machucar ela. No fim das contas, acho que acabei a machucando mais do que devia, e a agonia acabou em abril. Não é essa a história que vou contar aqui, mas este foi o meu primeiro "crime" de 2003. O outro foi gostar de alguém muito mais nova que eu - somos do mesmo signo do horóscopo chinês, se alguém quiser ter uma noção da disparidade - e é em torno dessa alguém que todo o furacão a seguir gira.
Conheço ela desde que ela tinha a idade da minha "filha": certo dia ela me apareceu no icq - vinda da minha página de Caverna do Dragão - e ficamos amigos. Ela sempre me pareceu ser uma pessoa bem expansiva, inteligente, gostava de escrever e desenhar; uma daquelas pessoinhas que a gente torce pra não ficar fresca quando a adolescência estiver no auge. Menina quando cresce é um saco -_- Sempre a tive em conta como amiga, alguém especial mesmo, e era minha betatester preferida de Raquel ^^ A primeira vez que nos vimos ao vivo, na Liberdade com o então namorado dela, conversamos como se a gente sempre se falasse cara a cara todo dia. Não parecia ser a primeira vez que dois internautas se encontravam no mundo real, foi de certa forma, espantoso. Se bem que isso é uma característica da personalidade dela: ela é expansiva, se você a prender numa ilha deserta com uma pedra, ela vai puxar assunto com a pedra, e a pedra vai a considerar a melhor amiga. É uma moça que cativa muitos amigos, ao mesmo tempo que é fechada. Para você faze-la dizer o que a incomoda, só com pé de cabra, senão vai continuar fingindo estar bem até o sorriso lindo dela dar cãimbra.
E um dia... acordei descobrindo que gostava dela. Não amava mais minha namorada mesmo, fazia tempo que acreditava que tinha perdido a capacidade de amar alguém. Mas estava amando de novo, de repente percebi que não estava mais morto no coração e... até aquele dia já tava me sentindo culpado por não gostar mais da namorada, agora também tava me sentindo culpado por gostar de alguém tão nova¬¬ E acabei me fechando nos meus sentimentos, ninguém iria saber uma coisa dessas. Era absurdo eu gostar de alguém tão nova.
Não comecei a gostar gratuitamente, nos últimos meses estava muito legal falar com ela, a gente combinava nos assuntos que conversavamos, sempre combinamos. Naqueles tempos, a moça me cativava mais e mais a cada dia, e a besta aqui se segurando pra não se declarar a ela. O que ela acharia de um absurdo desses?? Talvez ela poderia ter percebido algo quando, depois do fim do meu namoro, a gente marcou de ir no cinema: a gente mora em capitais de estados diferentes, são seis horas de viagem de ônibus. Por "n" motivos adiei marcar o cinema, até que em meados de maio a gente fixou uma data umas duas semanas depois. Eu tava nas nuvens, feliz, feliz feliz. Não esperava nada do passeio, mas eu estava amando e ia ver a pessoa amada. ^^ Não aconteceria nada, e isso já era bom o suficiente. *_*
E no meio do caminho para a terra prometida, levei a primeira facada no peito -_- Uma semana depois de marcarmos o cinema, ela, toda contente, me pergunta de um cara que ela tinha citado meses atrás. Na época dissera a mim que ela chegou a estar interessada nele, mas ele não dava sinais de reciprocidade, estava ocupado demais correndo atrás de outra pessoa. Desta vez a notícia era diferente: uma amiga dela contatou o tal na cara dura e perguntou se havia algum interesse dele por ela.
...Havia sim >_<
A menina estava estava toda eufórica na janela do icq. E eu sentindo toda a minha dor em silêncio na escuridão da sala da minha casa. Perguntei várias vezes se ela queria MESMO que eu fosse pra cidade dela ("se você não for, você apanha"), e acabei indo: para os meus pais, inventei desculpa que tava indo para encontro de amigos meus numa cidade vizinha, acordei quatro da matina e seis e meia tava pegando o ônibus para a outra capital. Seis horas depois, estou na rodoviária de lá e pela primeira vez na vida me viro sozinho naquela cidade pra chegar até o shopping marcado, encontrar a menina.
Foi uma tarde legal, nada demais. Pelo jeito, a criatura não tinha se tocado que eu gostava dela, e eu mantive a máscara de sempre. Juro que tentei chegar ela mais pertinho de mim no cinema, mas o maldito corrimão que tava na nossa frente atrapalhou tudo ¬¬ Atrapalhava também na minha cabeça a diferença etária, ela estar pensando no outro cara e minha timidez de sempre. No comecinho da noite fui pro aeroporto fazer o segundo vôo da minha vida e chegaria em casa sem ninguém notar que fui pra tão longe. Até hoje o povo daqui não sabe dessa minha aventurazinha ^^.
Após isso é complicado precisar alguns fatos, as coisas aconteceram rápidas e sutis demais até pouco tempo depois da animecon daquele ano e... eu estou admirandoo você, amigo leitor, que chegou até este ponto e está disposto a chegar até o final. Se o assunto não fosse sério pra mim, colocava uma anedota ou duas no trajeto pra deixar a leitura mais agradável, mas não dá. E se ninguém exceto uma certa pessoinha ler tudo isso até o fim, fico feliz ^^ Poucos dias depois do cinema, não aguentava mais segurar, precisava desabafar com alguém, e fiz isso com uma amiga comum a nós dois, digo, não ia falar para ela de quem eu gostava, mas acabei dando pistas o suficiente pra menina sacar quem era, e despejei tudo para a coitada assim que ela descobriu. Ainda tinha medo da reação das pessoas ao saberem de quem eu gostava. -_-' Conversando com essa amiga (que vou chamar de "Ártemis" pra evitar confusão dos leitores com tantos "ele" e "ela") descubro que o carinha supracitado não gosta da moça que gosto, mas da prórpria Ártemis. Isso segundo ela. Não dava para acreditar muito, meu azar me pega sempre que estou desprevenido, mas era um fio de esperança para se agarrar, e de qualquer forma, Ártemis disse pra eu não falar nada daquilo para ninguém porque ia averiguar pessoalmente se ele gostava da moça... E depois disso, Ártemis parou de falar comigo por um tempão.
Enquanto a moça acima me deixava num vácuo de dias, ficava conversando com minha paixão secreta. Estou relendo agora os logs com conversas antigas, a gente era mais próximo >_< Ou ela era menos besta-açucarada como ficou depois :/ Sim, é dor de dor de cotovelo sim, mas dói reler algumas coisas bobas dessa época, era outro tipo de relacionamento. Numa madrugada enquanto conversávamos, ela me mandou (e para o carinha que ela gostava, e pra várias outras pessoas) um daqueles questionários com milhões de perguntas pra se responder e devolver por e-mail. Decidi enfiar nas respostas, nas entrelinhas, sinais que estava afim dela, devolvi o mail, e ela recebeu e lia enquanto conversávamos madrugada adentro, com este mushi fazendo esforços contra o monstro da timidez, tentando deixar menos subentendida a mensagem subliminar inserida no questionario. Mas não conasegui evitar em pedir desculpas por gostar dela e besteiras similares que falo quando já estou gaguejando de nervoso. Tudo bem que no ICQ não tem muito espaço pra gaguejar, mas eu estava tremendo como se estivesse com frio. Logo em seguida ela foi dormir e praticamente não tocamos no assunto nos dias seguintes. Também dispensei ela de responder aquele questionário pra mim no espírito de "não quero pressionar", respeitar o ritmo dela et caetera. E não muito depois a moça me fala que o cara que ela gosta fica em dúvida de se aproximar dela: pelo jeito, Ártemis deu sinal que gostava dele, algo assim. Ele correra muito atrás daquela moça no passado... e só. Fora isso, não tive mais notícia nenhuma dele ou do que estava acontecendo, só fiquei em suposições. Parte delas baseadas nas carinhas do i-eu dela... já as MINHAS carinhas do i-eu a partir dessa época, principalmente as felizes, eram uma mais falsa que a outra =/
"Suposições"... minha imaginação é perigosa. Por causa dessa moça, por um bom tempo tive medo de ficar sozinho com minha imaginação, por que ela alimenta falsas esperanças que se provavam falsas em seguida. A ausência de noticias do que poderia estar acontecendo e qualquer novidade discreta da parte dela (ou de outras pessoas envolvidas) ameaçava jogar minhas esperanças pro alto ou pro inferno lá em baixo. Em julho comecei a vivenciar a gangorra emocional - altos e baixos no meu humor assustadores, de leves esperanças à profunda mortificação, mas to me adiantando no tempo. Até a Animecon eu ainda tava mais ou menos ok nessa história, afinal, a esperança tinha crescido desde a notícia das dúvidas dele e da inexistência de outras notícias. Era só o boi sair da minha linha para as coisas voltarem a ficar boas, e isso parecia estar a caminho.
Usando estratégia nova pra faltar no serviço, na quinta feira acordei cedo, fui no Hospital do Câncer e doei sangue, o que me garantia falta justificada no banco e me liberaria para ir na Animecon. Desculpem o drama, mas literalmente dei do meu sangue para vê-la :P Cheguei cedo no evento, encontrei amiga da organização que ficaria de olho em qualquer coisa do meu interesse (nessa altura do campeonato estava abrindo o coração pra mais gente além de Ártemis, e pra mais e mais e mais e mais gente nos meses seguintes), depois vi ele e Ártemis conversando (cruzei os dedos) e fiquei no aguardo da moça, que chegaria com outra amiga bem mais tarde. Para assasinar o tempo, fiquei zanzando impaciente pelo Arquidiocesano.
Enfim, elas chegam da rodoviária e começa a se delinear meu lugar no cenário: o de fora. O grupo de amigos dela cercou as duas, e fiquei mais para trás pra cumprimentar ela depois... e acabei presenciando um abraço carinhoso nele por parte dela. Realmente perdi parte do que aconteceu na história naquelas semanas de "silêncio" e meu castelinho de nuvens estava sendo desmanchado pelo ciclone da realidade concreta. Naquele dia não aconteceu muita coisa entre os dois, não fiquei tanto perto dela quanto eu queria, minhas esperanças estavam indo pelo rado, tinha almoçado apenas um número um no Mc e meu corpo estava meio litro mais leve. Isso tudo me abateu e aquela não foi um exemplo de quinta feira feliz. Na sexta-feira eu me sentia morto, mas tinha de trabalhar assim mesmo. Atendi aquele povo todo no automático com esperanças assassinadas, respiração pesada, muita dor por dentro. Resignação era o meu caminho.
A sensação naquele dia era de ter valor algum, de ser algo que foi dispensado por um treco melhor. De não ter importância, de ser um incômodo que alguém tem de carregar no resto da vida por dó. Alguém que só existe para compor o cenário, mas nunca pra participar como personagem principal da peça da vida dela. No fundo, é como enxergo as coisas no cenário atual. Talvez por isso, mesmo depois de ter horas diárias de conversa com ela, emprestar livros e revistas via sedex, mandar CD's com anime, e ela não se lembrou de dar um toque que o grupo dela NÃO ia na AnimeFriends no sábado. O trouxa aqui foi naquele eventico, zanzando nos corredores e pátios do Madre Cabrini atrás da dona moça. E saiu voando pro Arquidiocesano quando soube onde que estava na convenção errada ¬¬
Domingo da Con, último dia dos eventos. No dia anterior tinha feito uma camiseta com a Raquel e Cat, desenho cortesia de Rogério Hanata que me mandou sem eu pedir por ele na sexta a noite. Milagres existem, queria dar algo para ela, e me chega essa imagem na caixa postal do yahoo sem eu pedir. Não tinha visto os dois juntos como casal, mas já estavam flutuando por aqui e ali boatos que tinham ficado. Ártemis não estava legal. E eu estava menos sentido e num ponto da tarde conversei com ela. Rapidinho, não profundo como eu queria, mas o suficiente pra deixar claro alguns pontos: amo ela, quero ela feliz a qualquer custo, e que, no fundo, estava torcendo contra aquele relacionamento, claro.
Mais a noite estávamos eu, ela e Petra esperando o resultado dos cosplays na quadra - hmm, os cosplays merecem uma ou duas linhas: o grupo dela participou no concurso e ela montou o enredo da apresentação que todos encenaram de tal modo que seu personagem ficava junto do ele -_-'. Vortando: ficamos nós três conversando e falando mal de uma menina chata (inclusive usando meu caderno pra isso), quando ela percebeu que estava quase na hora dos resultados sairem e estranhamente ninguém do grupo estava por lá para acompanhar. Foi lá conferir o que acontecia e Petra também saiu por outro motivo. E estava armado o palco pra uma das situações mais confusas, estranhas, bizarras nisso tudo:
Alguns minutos depois ela aparece chorando. Depois eu e outro colega dela estamos a consolando enquanto ela se desmancha em lágrimas nas arquibancadas. Depois o cara que ela gosta aparece circulando na quadra conversando com outro carinha como se nada tivesse acontecido. Pouca informação chega naquela hora. Depois está todo mundo na quadra. Depois estão ela e Ártemis, intermediadas por outra amiga das duas. Depois está todo mundo voltando no metrô, ela e ele meio próximos, mas parecia ser algo tão resignado com o fim de algo como eu estava antes disso tudo. Tudo pra mim pareceu correr assim, como cenas desconexas em sequência. Mas voltei pra casa com esperanças, achando que ele tinha decidido por Ártemis ou algo assim...
Pra variar, esperanças demolidas no correr da semana: o que aconteceu naquela noite, segundo ela, foi que Ártemis começou a chorar na salinha do grupo, ele começou a chorar e começou choradeira em cadeia no grupo. Algo assim -_- Toda esperança mushiniana morre de forma bem tosca.
Desse fato em diante decidi de vez entender o que aconteceu. Se antes da choradeira eu tava resignado, depois disso fiquei com a pulga atrás da orelha. Talvez se não tivesse acontecido nada naquele domingo, eu teria pulado fora dessa novela logo após a conversa com ela. Talvez eu só estivesse procurando uma desculpa fajuta para lutar por ela novamente. Me aproximei do grupo de amigos dela o máximo que pude, pra tentar entender o que acontecia, e tentar receber notícias. AnimeRio estava chegando, e desta vez ele iria pra cidade dela. Se hospedar na casa dela. Era agora que o namoro iria começar. No dia que ele chegou lá - ela me descreveu nos dias anteriores mais ou menos que tipo de roupa ia usar, e falou que ia espera-lo na rodoviária, estava contentíssima de contente - eu estava pior que na sexta da Animecon. Muitíssimo pior, tive vontades de fazer um desabafo gigante que nem esse, mas mais rancoroso, mais dolorido, mais desesperado. Iria sumir da rede. Iria fazer isso e aquilo impulsionado pela dor. E por algum milagre fiz nada.
Paralelo à chegada dele na cidade dela, eu estava recebendo boatos de que o moço estava em duvida de qual direção seguir, ou que ele na verdade queria manter as duas na espera, ter as duas na mão (pessoalmente, essa última me pareceu uma grande viajada na maionese). Na Animecon, eu tinha pego o IUCq dele e várias vezes tentei descobrir qual era a dele, se tinha decidido pra onde ir, e ele nunca me deu resposta direta, mas algo do tipo "parei de brigar, vou onde a maré me levar" (não estas palavras). Tentei saber por Ártemis o que acontecera entre os dois e a GROSSO MODO me disse isso: nunca namoraram, quando ele estava se aproximando dela, de algum modo ela se afastava dele. E vice versa. Ele tinha brigado por ela fazia pouco tempo, agora parecia ser a vez de Ártemis.
Depois de me contar isso, ela ficou MUITO tempo sem falar comigo.
...e ele veio me dar bronca numa conversa posterior, falando que Ártemis era delicada e tal, que eu devia tomar mais cuidado com ela. :/
Voltando... ele ficou na casa da moça que gosto por quase vinte dias. Na Animerio, me falaram que eles não andaram como casal na frente de amigos. Segredo parecia ser uma das características desse namoro, tanto que os amigos (que ela estava se afastando) não sabiam quando ele ia pra cidade dela ou quando ela vinha pra minha cidade. Eu só fiquei sabendo que ela veio para cá em setembro por que eu sonhei. Literalmente. -_-
Foi assim (anotem se tem algo contra mim e querem argumentos pra me por no hospício): pouco antes do aniversário do namorado, ela estava fazendo um presentinho pra ele, algo que ia mandar pelo correio. E alguns dias depois, sumiu do icq sem deixar rastro ou aviso. Entre feitura do presente e sumiço, numa quinta, acho, sonhei que ela estava aqui na minha cidade, num cômodo comprido de uma casa, e que ia ficar um tempo a mais pq dava pra faltar na escola e tinha notas em ordem e tal, e também por quê estava doente. E por causa dessa visitinha de Morpheus, fiquei cismado que ela estava aqui, fiquei apagado. Antes eu tinha ilusões a favor de mim, sonhava acordado otimista com fios de esperança.... agora eu estava tendo ilusões contra mim? :/ Domingo a noite me informamque ela realmente estava em SP. Na segunda ligo pra casa dela e me confirmam, era pra ela ter voltado, mas houveram problemas lá e ela teve de adiar a volta. Ligo pra ela vinte e quatro horas depois e a própria me fala que namorado e família ficaram doentes, intoxicação alimentar, algo assim. Não acredito em futuro, ou premonição, mas meu queixo caiu quando vi as coincidências O.O
Uma pessoa presa fica supersticiosa. De certa forma, gostar de alguém é uma prisão, então tive lá minhas superstições. Tentei desencanar? No começo não me esforcei pra isso, por experiência anterior sabia que estaria procurando uma "substituta" para a tal moça. Se eu ficasse com alguém, não iria ser honesto nem com quem eu estaria, nem comigo mesmo. Mais pra frente desencanei um tanto da menina, mas nada a ponto de perder a afeição, e apareceram outras mulheres como "possibilidades", mas entravam e saiam do cenário rapidamente. :/ Preso, mas não mudo. Se antes de me declarar, eu fazia silêncio mortal por me censusar de gostar dela, depois da Con eu estava tão desesperado e perdido que todo mundo que me aparecia no msn/icq ficava sabendo da história, até pessoas que nunca tinha falado antes conheciam minha história. Por causa disso, fiz e reforcei amizades que foram vitais pra mim, e assim como ouviam minha história, ouvi a dos outros, me sentia um ímã de histórias tristes, e aprender a ouvir dá tanta força quanto pegar um ombro emprestado.^^
Setembro termina com o aniversário dela e eu mandando presentes à ela pela primeira vez na vida: dois livros e um cartão desenhado por mim :). Novembro fui para a cidade dela com pretexto de conhecer amiga, mas a intenção era de ficar perto dela mais uma vez. Foi legal, só a vi no sábado, no domingo saí com amiga. Na semana seguinte a essa viagem foi meu aniversário, sem muito o que comemorar. Dezembro me leva à cidade dela de novo, mas não a vejo: festa de aniversário de duas amigas dela que me convidaram, ela mesma não foi. Namorado estava na cidade também e todos se perguntando "por quê eles agem como se estivessem se escondendo".
Tô afim de contar alguma anedota pra "alegrar" o texto, esse treco aqui tá ficando monótono, alguém aí tem uma? Entrei em 2004 com três quilos a menos e com toda a dor, boas lembranças que eu tenho dela - aquelas boas lembranças do tipo que te fazem ficar deprê por não serem mais presentes - e grande parte da ressurreição da minha capacidade de amar alguém devidamente guardadas num baú num canto afastado nos recôditos da minha mente. Mas ainda brigava para manter a velha amizade dela. Na época em que ela praticamente sumiu quando o namorado "morou" na casa dela por quase vinte dias, tive muito medo de perder esse meu laço com ela... quando ela reapareceu, fiz o que pude para manter ela como amiga e reconstruir coisas que foram inevitavelmente quebradas - medo, ciumes meus, eu ter me declarado, a confusão que o namoro deles estava gerando em torno dos amigos, tudo isso fez seus estragos em diferentes gradações. Tive medo de nunca mais conversarmos: vi ela lentamente cortar laços de amizade com várias pessoas que eram próximas por serem contra, ou "contra" o namoro. No fim, algumas dessas pessoas tentaram reatar a amizade, mas acabaram desistindo.
No aniversário de seis meses juntos, ela entupiu o namorado de homenagens e foi uma das raras vezes que falei com ele este ano. Foi a primeira vez em que ele me pareceu gostar dela, ou ao menos feliz com ela. Da outras vezes ou estava posando de cansado sofredor à deriva na maré do destino, ou de desencanado desconfiado ("Bom, sua dona apareceu :P" "Dona?? Num tenho isso naum..."). A alegria naquele dia foi mais um fator que me fez desencanar de ter esperanças. É bem melhor assim do que viver naquele ciclo de flutuar na ilusão e despencar na realidade.
Não converso com ele muito, é um ser que vive invisível no ICQ (DFMa serve pra isso ;) e não tenho MSN dele, então não dá pra saber qual é a dele afinal. Juntando os boatos, experiência própria, observação e (certamente) esperanças, acho que ele está com ela pq foi ela quem correu atrás e faz das tripas coração por ele e a pessoa que ele realmente amou o dispensou. Ártemis atualmente está namorando, e o cara é gente fina, ele até destravou meu DVD-ROM XD
Não estou aqui para salvar nada, estou bem decepcionado com ela como amigo. Em maio eu fui pra Recife, fiquei dez dias lá e Camilla foi uma senhora anfitriã, acho que fiquei até mal-acostumado. Milla merece tudo de bom e enquanto estive lá fiquei a disposição dela em qualquer coisa para ajudar a resolver o problema dela, caso fosse necessário (e assim o fiz, dentro do meu possível). Findo meus saudosos dez dias na América do Norte, fui pra cidade da moça que é o assunto desse texto, descaradamente para ve-la, afinal, é amiga, né? Ninguém faz um puxadinho de 400km numa viagem à toa... Cheguei de Recife numa segunda feira a noiite e fiquei hospedado no apartamento de um colega. Por coincidência, do outro lado da rua, ficava a faculdade dela e a gente se encontrou na terça. Assisti uma aula (muito boa!) com ela e seus colegas, e fomos comer no shopping, eu, ela e amiga yaoi :P. E foi só.
Agora acompanhem comigo: teoricamente sou amigo dela; não moro na cidade que ela mora e faziam quase seis meses que a gente não se via ao vivo; a faculdade onde ela estudava era DO LADO de onde eu estava hospedado. E ela nem fez menção de me ver outros dias -_-. Estou cobrando demais ou me mimaram demais em Recife? Fiquei muito chateado, e em vez de voltar pra casa no sábado, decidi ir na rodoviária na quinta feira assim que acordasse, já que na quarta ia sair com uma amiga, mas desmarcaria alegremente se ela inventasse qualquer coisa. E assim foi feito, mas justiça seja feita: ela tava pensaaaaaaando em marcar algo pra sexta-feira. Grande :|
Acho que já disse que estava, e estou, bem mais desencanado do que um ano atrás. O auge da dor foi o binônio julho-agosto, com participações especiais de setembro e novembro. No geral, hoje em dia converso com ela sem... digo, conversava com ela sem ter devaneios e nunca tive alguma vontade assassina contra o namorado, que no fim das contas, não parece ser má pessoa. Acho que o única provação seria ver os dois juntos, algo que não tive de enfrentar até agora. Na prática não aconteceu na Animecon, e em setembro já disse que ela veio escondido e não a vi. A Semana Santa desse ano foi desencontrada, fui pro Paraná. E finalmente ia ver os dois no dia dos namorados que passou, e basicamente aconteu isso aqui. Não vou recontar o que aconteceu, hoje é o sexto dia que estou literalmente me exaurindo neste texto, mas deixa eu escrevevr o que faltou naquele post: desde agosto passo na Catedral da Sé - eu sou teimoso e cabeça dura, mas preciso de Forças que não tenho. E até agora não faltaram - Nestas visitas à Sé, comecei a tirar fotos do centro da cidade e inaugurei meu flog e... to divagando: naquele sábado fui na Sé como sempre e de lá zarpei direto pra estação, onde eu aguardava pelo abate na catraca do metrô Liberdade. Eu estava apavorado, não é a toa que num primeiro momento dei graças a Deus por não ter visto os dois juntos. Não sei quão mal faria -_-'
Mas fez mal perceber que dou um monte de caminhos de chegar até a mim - todos eles! - , e não se lembrarem de explicar o atraso de mais de uma hora. Na segunda-feira a noite, já de volta pra cidade dela, a moça se explicou por msn, fiz gelo, mas aceitei as desculpas e explicações, eu sempre vou aceitar desculpas dela. Problema é que ela sempre tem desculpas e justificativas pra tudo que ela fez, faz ou fará =/ Tudo é desculpável, tudo é perdoável, mas poucas coisas são justificáveis.
E aqui estamos em julho, mês que se comemora um ano de desgraça e gangorra emocional. Um ano de castigo, depois dos crimes que cometi no primeiro semestre de 2003. Também tive aprendizado e conheci amigos, e conheci verdadeiramente alguns amigos apenas por causa dessa história toda. Mas no saldo geral é um ano de desesperança e dor, de me sentir jogado fora e dispensado... e ela me vem falar que estava pondo posts comemorativos ao primeiro ano de namoro nos fotologs e ia por nos blogs ;_;
Não respondi, respirei fundo, dei alguns minutos e bloqueei ela em todos os comunicadores que tenho no PC. Tenho nada contra ela, nada contra ele, nada contra o namoro, mas...
Cansei.
Ela não me faz bem, não enxerga além do mundinho feliz em que está presa. Tenho amigos por quem fiz tão menos do que fiz por ela e recebi tanto mais.
Mas ainda assim é a pessoa que eu amo, não o amor por um rostinho bonito - ela não é tão bonita, é bem medianamente normalzinha - mas a amo pela pessoa que ela é, pelo potencial que ela carrega. Por ser talentosa e inteligente, por ser expansiva, por ter tanto em comum comigo, pelo sorriso lindo que só ela tem. Pela amiga que foi e não sabe ser mais, por ser minha irmãzinha mais chegada que tive a sorte de ter, mais chegada a mim que meus dois irmãos biológicos. Um amor assim não desaparece num ano, ainda mais num ano tão atribulado como este que foi. Quem acreditou que desapareceria, nunca amou de verdade ou nunca me levou a sério como pessoa ou como homem.
Estou cansado de viver feliz por migalhas de atenção, estou cansado de ser stalker, estou cansado de segurar tanta coisa e não falar. Ou de ter medo de falar e não ser levado a sério na proporção do que sinto. Cansa ter esperanças, cansa ser afligido por insegurança, cansa ser tão pouco para alguém quando se faz tanto. É triste constatar que ela não tem capacidade ou maturidade para perceber o mundo em volta, de ser tão inteligente e tão pouco esperta ao mesmo tempo.
Daí o sentido deste post exaustivamente descritivo em público: matar o quão definitivo podem ser mortas as esperanças. Dar motivos para ela nunca mais falar comigo, e nunca mais ficar esperando algo do mundinho dela.
Já faz mais de ano e meio que esta história começou para mim, com um beijo que nunca existiu. Já redescobri que sei amar, que posso chorar por alguém, que posso ser maior do que eu pensava que podia ser.
E agora tenho forças para encerrar esse capítulo, por que eu tenho necessidade de encerrar tudo isso, para meu próprio bem.
Você não sabe o que perdeu, moça, nem tem idéia.
Te amo.
mushi-san
10 à 18 de julho de 2004
(E acabou, por favor apaguem as luzes)