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Continuando com a tradição "vamos criar polêmica", aqui vai um texto do meu amigo Faramir, bom demais para naõ ser dividido com mais pessoas.

Ah sim, e naõ deixem de visitar: Great_Scott!!
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Quanto mais passa o tempo, mais realista "Os Deuses devem estar loucos" fica a meus olhos. É impressionante.

É também impressionante como, mesmo dentro de um nicho desprezado pela maioria, as pessoas conseguem dar um jeito de criar novos grupos antagônicos. Os quadrinhos são desprezados por seguidores de outras formas de arte "mais dígnas e relevantes", e ainda assim, dentro do grupo "Criadores de HQ", temos dezenas de sub grupos que brigam pra caramba... e esquecem-se do propósito original. Veja acima.

Igualmente impressionante é a ausência de gente levando as HQs a sério. Estou cansado de gente que trabalha com HQ mas faz questão de deixar claro para todo mundo que não é uma "pessoa de quadrinhos", e sim uma pessoa "normal", apesar de trabalhar com HQs. Pessoa "normal" aí é alguém "cool" pelos padrões aceitos pela maioria da sociedade, ou seja: Tem muita gente que, apesar de dedicar-se as HQs, faz questão de frisar que o importante mesmo é "sair e se divertir e ficar e catar mulher blah blah blah", que "não fica o tempo todo fazendo isso", que "tem uma vida", e outras baboseiras do tipo. Como se fosse certo que fazendo uma coisa necessariamente não se está fazendo as outras. Como se as pessoas "normais", a maioria comum, ligasse para o que o cara que faz HQs está fazendo, ou mesmo se ele existe.

O resultado disso é gente que trabalha com HQs, mas acaba lendo pouco, estudando pouco. Gente que JAMAIS irá perder tempo caçando artigos sobre os Quadrinhos, lendo teorias sobre o potencial da página e a estrutura dos quadrinhos e da narrativa gráfica. Afinal, isso é coisa de nerd, e essa gente não é nerd. Gente que faz questão de apontar para a banca e dizer orgulhoso que "não compra nada do que tem aí", porque tem lugares mais importantes para colocar sua grana (como a balada ou sei lá o que.). Gente que faz questão de deixar bem claro para todos que é culto porque leu esse, esse e esse autor de "livros de verdade", enquanto evita citar as HQs. Enfim - esnobes, que tentam esnobar os outros do meio se aproximando da tal visão de uma "pessoa normal". (Quem lê só quadrinhos e nunca lê mais nada, cria quadrinhos ruins. Quem não lê quase nenhuma HQ, e nem estuda nem convive com HQ, pode cair na mesma do mesmo jeito.)

E o resultado disso esta aí para todo mundo ver, oras. Histórias ruins, simplórias, banais, infantis até; Modismo atrás de modismo, de gente que "cresce" mas não evolui; Histórias bobas que, ironicamente, acabam interessando só aos "nerds" adolescentes que compram qualquer coisa, e nunca ao povo "normal", onde está o novo público do qual tanto precisa o mercado. O povo normal não lê a revista, não conhece o criador, e no final está pouco se lixando para esse profissional que, sutilmente, despreza sua profissão para parecer "normal" aos olhos dos "normais" que não estão nem olhando para ele.

E assim, temos os criadores de HQ que não são nerds, para sua própria felicidade e satisfação. Alguns vão continuar fazendo o que sempre fizeram, não criando nada e indo a lugar algum; outros vão seguir atrás de uma moda iniciada por desenhos animados infantis de sucesso até que a fonte seque. E todos estão falando, com suas histórias e seu desprezo, única e exclusivamente para quem já está no nicho. Um comportamente mediocre vindo da visão limitada de quem não leva sua profissão a sério, é simples assim.

E eu não quero saber se essas pessoas são felizes ou não - tudo que me importa é o deserviço que prestam ao meio das HQs.

E os quadrinhos não evoluem, e cada vez menos gente se importa.

Se alguém pensa que o Alan Moore escreveu "DO INFERNO" na sexta de manhã e em outros intervalos de vinte minutos de sua "vida normal", está redondamente enganado. Arte requer tempo, requer sacrifício, requer dedicação. É claro que nem todo mundo quer produzir arte.

Já ouviu falar de "vida de artista"? Nela você não precisa deixar de sair e se divertir e ser cool. (Quem disse isso?) Mas precisa defender o que você faz. Precisa se dedicar ao que faz, apoiar seu meio.

Quem viver para sempre sob a sombra do estereótipo adolescente do nerd, vai ser sempre "nerd". E sempre adolescente.

4 Comentários

Nabeshin em 18/07/03, às 08:17: Muito bom esse texto. Mande meus parabéns ao seu amigo :) (Reply)
Lu Bozz em 18/07/03, às 11:19: Interessante... tenho alguns comentários apenas... Nerd, bem, nerd tem em todo o lugar e não só nos HQs... o que tem de acabar é a arrogancia dos dois lados pq vejo muito artista se pensando uma raça superior tb e isso cansa.
Quanto a leitura... se o cara não lê não escreve, se não se informa é alienado e se não tenta procurar os famosos conhecimentos gerais vai estar sempre perdido dentro de um assunto só!
Engraçado, eu só gosto de HQs, não escrevo, consumo, mas consumo de tudo, outras revistas, livros, vou pouco ao cinema pq a grana é muuuiiittttoooo curta mas estou sempre na biblioteca pública (aqui em Curitiba ela é boa mesmo!) e vasculho de tudo.
Pensar em rotular pessoas é ridículo e o "artista" é que tem de tomar cuidado. Sou amiga de vários artistas daqui de minha cidade e conheço outros tantos que desprezo porque querem ser "diferentes" e ficam absolutamente iguais a todos os babacas por aí.
Se vestir de maneira estranha, falar de maneira estranha para que ninguém entenda, tudo isso os torna babacas identicos, querendo parecer e não o são.
O duro é querer parecer.
Artista nasce artista não tem roupa de artista, não tem cara de artista, não tem linguagem de artista, simplesmente ele é!
Portanto vamos acabar com essa coisa de Nerd e não nerd, vamos acabar com isso... o bom é tomar um chopp com os amigos e ler HQs, criar HQs e falar deles sem pre-conceitos! (Reply)
manel em 18/07/03, às 18:25: caramba... esse texto fala a verdade do início ao fim...
esses "artistas" q fazem seu trabalho d qualquer geito... devem ser esses caras q fazem questão d "ser normal"... se acham gostosões fazendo coisas "normais" e se esquecem q a incopetência acaba sendo normal no seu trabalho.
em partes eu não concordo com o q esse cara diz. tudo bem q a profissão de quadrinista não obriga o profissional a ser um excluso socialmente, mas devemos lembrar q grandes gênios d todas as áreas viviam exclusivamente para um só objetivo: seu trabalho. o convívio social ou era obra do acaso, ou era consequência. mas esses eram d natureza e não se esforçavam pra ser assim.
o lance é não negar quem vc é, viver aquilo q vc faz e ter orgulho disso. não é necessário ser um gênio pra ser um bom profissional. é só querer ser e mergulhar no universo criado por sua profissão, no caso, os quadrinhos. se não mergulhar, nunca aprenderá a nadar. (Reply)
André Kenji em 19/07/03, às 22:59: A questão é de que o meio quadrinhos não devem ser limitados aos quadrinhos. Deve=se pegar influências em outros meios, como cinema, literatura e artes plásticas em geral. Will Eisner foi bastante influenciado pelo cine noir, Alan Moore é entendissimo em mitologia e literatura, Osamu Tezuka devorava livros(A ponto de adaptar um livro de Dostoievsky) e John Buscema estudou a arte de Michelangelo.
TODO artista deve ser dedicado, mas ele não pode se limitar aos quadrinhos. Se nerd estiver sendo usado como o cara que SÒ pensa em quadrinhos o dia inteiro, então é algo prejudicial.
E muito.
Acho que se muito desenhista largasse de ficar copiando gibi para estudar fotografias, eles iriam melhorar HORRORES. Mesmo porque ele não pode perder a sintonia com o seu público. E o estereotipo do nerd é de alguém fora do contato com a sociedade. (Reply)

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