Vazio.


Abandonado, solto no espaço. Ar para um dia e meio de existência.

Era muito tempo.


Tinha decidido ficar de olhos fechados - abrir eles era indiferente, estava no meio do Vácuo de Virgem, não havia uma estrela em mais de cem milhões de anos-luz. Nem luz pra dizer quantos anos demorou pra chegar onde ele estava. Então, pra quê o esforço de separar uma pálpebra da outra?


Estava dando voltas em torno do seu próprio eixo, supunha. Com braços e pernas abertas, deveria estar parecendo uma estrela do mar boiando no meio do nada... E riu da ironia de assim ser a única estrela num raio de porrilhões de quilômetros. Uma estrela com rotação em torno do próprio umbigo.


Logo o riso morreu num largo sorriso que foi mantido até dar cãibras nas bochechas. Ele ainda teimava em manter os olhos fechados, e estava indeciso de como gastar as suas últimas trinta e tantas horas até ser apagado do Reino dos Vivos e existir apenas nas memórias de Deus.


Mas estava sem ânimo pra qualquer coisa.


07/04/05





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