[Escrito minutos antes de capotar. Definitivamente sob o signo do sono -_-²²²²]


"Eu me sinto vazio: sem amor, sem ódio, sem esperança, sem ideias, sem deus.

Tento me agarrar a todos estes conceitos em busca de me sentir viver de novo, mas eles me escapam de meus dedos e de minha alma. Será que ainda tenho alma?

O que eu fiz para merecer isso, essa condenação sem graça, essa vida em tons de cinza? Sinto falta do ódio e do amor vermelhos, da dor verde, de paz azul. Dos meus degradês emocionais, das minhas ilusões repletas de layers e alpha channels, das minhas esperanças sólidas e em cinco dimensões.

Agora está tudo gasto e desbotado, e sinto dificuldades em dar alguma cor nova ao mundo."


Ele era um homem preso, livre segundo a lei dos homens, mas amarrado pelas forças do Mundo. Certa vez, andando na Mar Mediterrâneo, uma menina parou e o encarou. Seus olhinhos vivos e negros liam seu corpo empoeirado e sua alma cinzenta como ninguém mais no mundo poderia fazer.

- Você é mais forte que eu.

- Claro que sou. Sou um homem adulto, e você é só uma menininha.

- Você não entendeu...

- Não, não entendi, acho que gostaria de entender, mas mesmo se eu entendesse, seria por aqui - aponta para a cabeça - e não por aqui - aponta para o próprio coração. Desculpe.


E desde este dia, ele encontra uma maçã, flores ou outras pequenas coisas coloridas todas as manhãs, na porta de sua casa. E assim mesmo, não consegue sair do labirinto cinza onde ele mesmo se enfiou.



Quanto à menina, ela arrisca a virar cinza também, presa numa rotina tão infrutífera quanto à dele.





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